Foto: Reprodução/TV Globo
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A atriz Elizângela puxa um carrinho com um tubo de oxigênio, estando na rua ou dentro de casa. Seria mais um dos tantos tristes casos de pessoas com deficiência pulmonar por motivos diversos.
Mas não é um caso comum. A atriz Elizângela do Amaral Vergueiro é uma negacionista com enfisema crônico. Não é a negacionista que guarda pra si seu negacionismo, mas que prega, alardeia e que tenta convencer os outros.
Foi infectada e está com sequelas graves da covid-19 porque não quis se vacinar. A vacina, já disse ela nas redes sociais, seria o equivalente a um estupro. A pandemia seria uma farsa.
Foi cruel com a ciência, com as crianças que aguardam com ansiedade pela imunização e com todas as mulheres violentadas, principalmente as pobres e negras.
Elizângela é a versão feminina e aperfeiçoada do tiozão do zap. Sendo celebridade, dissemina suas posições com mais facilidade e maior alcance.
Há Elizângelas por toda parte, em vários formatos. A cantora tcheca Hana Horka era a mais famosa Elizângela deles. Também pregava contra a vacina e morreu de covid.
Há também os Elizângelos. O mais famoso brasileiro era o finado Olavo de Carvalho. O ginasta húngaro russo Szilveszter Csollany, campeão olímpico nas argolas nos Jogos de 2000, em Sydney, também morreu negando-se a se vacinar e alardeando que a vacina mata.
Mas o certo é que todos nós temos uma Elizângela na família, uma pessoa comum, uma não-celebridade, assim como temos um tiozão do WhatsApp, no primeiro estágio de negacionismo, no intermediário ou no último.
Há Elizângelas com vidas precárias pelas sequelas da doença, e há as que morrem. A atriz está com toda a capacidade de discernimento, mas é negacionista.
As UTIs estão hoje cheias de pessoas com esse perfil. Todos sabemos o que dizem as Elizângelas das nossas famílias sobre a degradação física da atriz. Que aconteceu com ela porque Deus quis, mas não acontece com todo mundo.
Deus interfere em tudo, na vida do cara que vai bater um pênalti contra o XV de Novembro de Piracicaba ou contra a seleção da Itália na final da Copa. O negacionista religioso acha que Deus define um jogo de peteca na praia.
Elizângela se deu mal porque não conversou direito com Deus. Há no negacionista uma associação quase automática com o bolsonarismo e, por consequência, com o fascismo protegido por uma estranha religiosidade.
O tiozão do zap, um homem de fé, antes de ser negacionista, porque em 2018 nem Covid existia, já era bolsonarista militante da extrema direita.
Dizem que em 2022 o tiozão virá com mais força. Mas dizem também que não será bem assim. Porque o tiozão será controlado pelos sistemas de fiscalização do Tribunal Superior Eleitoral.
O ministro Alexandre de Moraes irá presidir o TSE na eleição e avisou que candidaturas podem ter o registro cassado se forem associadas a qualquer tipo de fake news.
E que disseminadores de notícias falsas, ódios e difamações poderão ser presos. Mas o TSE conseguirá controlar tudo, ou teremos este ano a versão do tiozão 2.0 ainda mais ativa?
O tiozão já está salivando. Ele vai largar quase tudo, alterar horários de trabalho, passar a noite acordado e falar pouco com a família, porque precisa passar adiante as bobagens que recebe dos outros tios.
Não é mais a ‘notícia’ da mamadeira de piroca, mas sobre as milhares de coisas assustadoras que a extrema direita encontra dentro de uma vacina.
O tiozão assume a incumbência de espalhar mentiras criminosas que induzem as pessoas ao erro e à morte, mas não mais como um simples disseminador de fake news.
O tiozão acredita que trabalha como repórter. Ele se convence de que capta informações e se esforça para ser o primeiro a passar adiante.
Famílias têm as suas versões do tiozão e da tiazona, nos moldes de Bolsonaro, dos filhos de Bolsonaro, de Elizângela, Damares e Regina Duarte.
Sem Olavo de Carvalho, que dava peso ‘filosófico’ às crueldades do bolsonarismo, o tiozão pode ter ficado desorientado. Mas logo terá outro guru para orientá-lo e seguir em frente. O tiozão com Deus acima de todos é viciado em mentiras.