Por que pintou um clima, de novo, entre Bolsonaro e Moro
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É uma gangorra a vida dos apoiadores de Sergio Moro e Bolsonaro, que voltaram a ser amigos. O ex-juiz passa a ser parte da mesma turma dos filhos de Bolsonaro, de Damares Alves e dos militares.
Eles se amavam e depois se odiavam tanto. Era tanto ódio que Moro mobilizou a Polícia Federal, o Ministério Público e o Supremo num inquérito que durou dois anos por causa das suas acusações contra Bolsonaro.
No domingo, ao lado de Bolsonaro no final do debate na TV bandeirantes, o ex-juiz mandou um recado a essas instituições: esqueçam as denúncias de que o cara aqui cometia crimes ao interferir na Polícia Federal, porque somos parceiros mais uma vez.
Já tinham esquecido. Em março, a PF pediu ao Supremo que arquivasse o caso. O Supremo pediu parecer da Procuradoria-Geral da República, que também decidiu que a gaveta era o destino das denúncias.
Moro acusava Bolsonaro de ter trocado por quatro vezes os diretores da organização. Eles não atendiam seus interesses políticos.
Mas PF e PGR decidiram que era tudo normal. Quatro chefes da PF em menos de quatro anos? Tudo bem, tudo dentro da transparência republicana.
E agora o ex-paladino da Justiça, o ex-juiz mais correto do mundo, retorna aos braços de Bolsonaro, num movimento que só surpreende os que fingem conhecê-lo.
Moro foi humilhado por Bolsonaro na famosa reunião ministerial de abril de 2020, quando o chefe disse ao subordinado que ele não estava cuidando dos interesses da família.
Bolsonaro sugeriu ao seu ministro da Justiça que pedisse para ir embora. Moro obedeceu, porque não teria nunca mais a chance de chegar ao Supremo.
Saiu, denunciou Bolsonaro, mobilizou PF, Ministério Público e Supremo e agora passa a cortejar Bolsonaro de novo.
O que um senador eleito tem a ganhar aproximando-se de Bolsonaro, se terá imunidade por oito anos? A extrema direita fica confusa.
A verdade é que Moro elegeu-se senador como aliado de Bolsonaro. Ele se ofereceu a apoiar o sujeito, e não contrário.
Para se reaproximar de quem o tratava como incompetente, Moro brigou com o ex-aliado Álvaro Dias.
Dias, que era amigo e o levara para seu lado na política, virou inimigo, e Bolsonaro voltou a ser o amigão desde o tempo da prisão de Lula.
Mas o que o reaproxima de Bolsonaro, se aparentemente isso parece não fazer sentido? A primeira resposta é a óbvia: para tentar atemorizar Lula e as esquerdas.
Moro está dizendo a Lula que, caso Bolsonaro se reeleja, ele estará ao lado dele e dos militares para participar de um novo cerco ao ex-presidente.
A outra hipótese levantada é a de que Moro quer voltar a ser herdeiro de Bolsonaro, o que era um dos seus planos originais.
Na cabeça do lavajatista, o vácuo aberto com o fim de Bolsonaro, depois da vitória de Lula, será ocupado por ele, pela total ausência de nomes de expressão entre os fascistas que sustentam o governo.
Moro encarcerou Lula e foi trabalhar para Bolsonaro. Foi incompetente para proteger a família, saiu atirando, acionou o sistema de Justiça contra o sujeito e agora anda de novo de braços dados com Bolsonaro. Porque pintou um clima.
Mas a pergunta é essa: Bolsonaro comeria um hambúrguer feito por Sergio Moro. O ex-juiz suspeito beberia uma caipirinha feita por Bolsonaro?
Aguardem a próxima briga de Moro com aliados de Bolsonaro, com os quais disputará os restos do bolsonarismo a partir do ano que vem.
Moisés Mendes é jornalista. Escreve quinzenalmente para o jornal Extra Classe.