Seu nome pode estar na lista feita pelo seu pai
Arte: Extra Classe sobre reproduções/Twitter
Arte: Extra Classe sobre reproduções/Twitter
A nova tática do terror são as listas com os nomes de empresas e seus donos e de profissionais autônomos considerados ‘comunistas’ por autoproclamados patriotas de cidades médias e pequenas.
É improvável que listas nos mesmos moldes circulem em metrópoles. Até podem conter os nomes de empresas, mas não de pessoas.
A nomeação de indivíduos só é possível em cidades em que quase todo mundo se conhece. A sabotagem é mais do que uma tentativa de boicote, mas de eliminação.
E esse é o aspecto mais cruel das listas com nomes que quase todos conhecem. É um esforço pela disseminação do medo.
Os definidos como comunistas, porque votaram em Lula, podem ser condenados à falência, ao desprezo ou ao exílio.
O primeiro relato com repercussão nacional foi o da advogada Janaíra Ramos, de Casca. A cidade gaúcha de 9 mil habitantes virou notícia no país.
Janaíra é uma das perseguidas pela lista elaborada pelos patriotas da sua comunidade. E logo o Brasil descobriu que as listas fazem parte de um método.
Indicar os comunistas é um complemento ao bloqueio de estradas e ao acampamento diante de quartéis. Se possível, como aconselham alguns perseguidores, com a colocação de uma estrela do PT, por parte do próprio perseguido, diante da empresa, da casa ou do escritório.
É a repetição da prática nazista que obrigava os judeus a colarem a estrela de Davi nos prédios em que moravam.
Regiões gaúchas de imigrantes europeus, que carregam as sequelas do que aconteceu no Holocausto, repetem contra os ‘inimigos’ a perseguição que marcou a humanidade na primeira metade do século 20.
A perseguição do fascismo brasileiro acionado por Bolsonaro pretende transformar empresas, escritórios e prédios residenciais em guetos.
Muitos dos que ajudam a elaborar listas ou a distribuí-las pela internet estão caçando gente da própria família. Há pais cúmplices da perseguição a filhos.
Há exemplos de familiares que fogem de perseguidores dentro de casa. Um desses casos me foi relatado. Uma neta que se refugiou na casa da avó, por se sentir constrangida e ameaçada pelo fascismo do pai.
Todos têm exemplos entre parentes próximos ou distantes do que significa ser acossado por alguém que até anos atrás era apenas um discordante político no churrasco do fim de semana.
As listas, que talvez venham a ser a última etapa a ser cumprida pelo bolsonarismo, até a sua extinção, abalam o sentimento do que é coletivo e comunitário.
Um nome numa lista é um crime irreparável. A ideologia é apenas um pretexto para os que perseguem parentes, amigos e conhecidos para defender seus interesses, por lucro, por dinheiro.
A neta que se refugiou na casa da avó foge de um mundo que ela rejeita e que não quer ajudar a manter. Que os netos salvem os afetos e destruam o fascismo.
Moisés Mendes é jornalista e escreve quinzenalmente para o Extra Classe.