OPINIÃO

Quem tem medo de celebrar o Dia do Orgulho LGBTIA+?

Por Rudson Adriano Rossato da Luz / Publicado em 24 de junho de 2024
Quem tem medo de celebrar o Dia do Orgulho LGBTIa

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

A 28ª Parada do Orgulho LGBT+, com o tema Basta de Negligência e Retrocesso no Legislativo! Vote Consciente por Direitos da População LGBT+, lotou a Avenida Paulista, no dia 6 de junho

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Na verdade, não é mais o dia, é o Mês do Orgulho LGBTIA+: Paradas do Orgulho em diversas cidades, eventos culturais e acadêmicos, em instituições e outros locais. Momentos de festa e celebração, mas, também, de luta e de fazer memória às pessoas que, em 28 de junho de 1969, revoltaram-se no bar de Stonewall, em Nova York, contra a violência sistemática que sofriam.

Porém, também há críticas. Elas são muitas e vão desde a expressões, como “por que tanta exposição” até a “defesa das crianças”. Sobre este último ponto, será que essas mesmas pessoas se sensibilizam com as mais de 7 mil crianças mortas em Gaza nos últimos meses? Ou nossa indignação é seletiva, atendendo apenas a pautas entendidas como “morais” – o massacre de inocentes não seria também uma pauta moral?

Essas críticas partem, muitas vezes, de pessoas que não se conformam com os avanços da sociedade. Talvez, gostariam que nós, pessoas LGBTIA+, voltássemos e permanecêssemos no armário, tivéssemos vergonha das nossas existências. Essas pessoas ainda querem que os conhecimentos médicos, jurídicos, científicos e religiosos tratem nossos gêneros e nossas sexualidades – que se desviam da norma, de algo que não é natural, mas imposto – como anormais e monstruosas.

Então, a qualquer avanço nessas áreas, que tente nos humanizar, os discursos inflamam-se, com o intuito de nos colocar como cidadãos de segunda categoria, menos humanos, vidas não tão importantes. Há, ainda, pessoas que compram essa narrativa, pois são tomadas pelo pânico moral. Discursos, como: “eles querem acabar com a família”; ou “eles querem impor seus valores à sociedade”, estão entre os mais comuns, e acabam por seduzir algumas pessoas.

Infelizmente, mesmo entre nós, LGBTs, há pessoas que criticam nossas próprias pautas. Eu não as julgo, mas as acolho! Somos compulsoriamente levados a nos odiar, a nos entendermos como pecadores, impuros e indignos de receber amor e carinho. Então, muitos de nós acabam querendo se encaixar na norma, acreditando que, se criticarmos as nossas próprias pautas, receberemos mais aceitação. Grande engano! Anular-se diante dos outros só nos fará menos felizes!

Não esqueçamos, o Dia do Orgulho é um dia de festa e celebração; e, principalmente, dia de fazer memória, dia de relembrar as pessoas que se revoltaram e não aceitaram continuar sendo desrespeitadas e sofrerem violência apenas por existirem; pessoas essas que abriram caminho para nós; no entanto, ainda há luta pela frente. E é isso que fazemos ainda hoje: celebramos o direito de amar, lutamos pela garantia dos nossos direitos civis e, também, lutamos pelas nossas existências.

Segundo o Dossiê de mortes violentas contra LGBTI+ no Brasil”, organizado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e pela Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT), 203 LGBTIA+ foram mortos de forma no ano de 2023. Desde 2000, já são 5.865 mortes. Todos os que fazem discursos contra nossas existências têm as mãos sujas de sangue!

Ainda temos muito que avançar: como comunidade LGBTIA+, continuamos lutando para termos nossos direitos garantidos na Constituição Federal (lembrando que nossos direitos estão apenas garantidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Além disso, temos lutas muito importantes como, por exemplo, o direito das pessoas trans ocuparem o banheiro segundo sua autodeterminação de gênero, e o fim da mutilação pela qual pessoas intersexo passam, quando do seu nascimento. Não podemos mais tolerar que os discursos médicos, jurídicos e religiosos determinem nossas vidas, sem que nós possamos participar dessas discussões.

É por tudo isso que precisamos celebrar nossas existências, fazer memória pelos que iniciaram esta luta e seguir na defesa dos nossos direitos. Parafraseando um dos discursos da deputada Érika Hilton – que, junto à Duda Salabert, são as primeiras mulheres trans deputadas federais no Brasil – seguiremos firme e forte, de pé: amando, lutando e celebrando nossas existências!

Rudson Adriano Rossato da Luz é professor, historiador, mestre e doutorando em Educação pela Universidade de Caxias do Sul (UCS).

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