OPINIÃO

No meio do fogaréu, o cerco a Alexandre de Moraes

Por Moisés Mendes / Publicado em 28 de agosto de 2024
No meio do fogaréu, o cerco a Alexandre de Moraes

Foto: Redes Sociais/ Reprodução

“Moraes negou o pedido de entrevista, porque Martins está em liberdade condicional”

Foto: Redes Sociais/ Reprodução

A cidade de São Paulo pega fogo com as falas do vigarista preso, processado e condenado Pablo Marçal. Os incendiários de campos e canaviais continuam agindo. O Exército finalmente manda investigar oficiais golpistas.

E, em meio ao fogaréu de um país em surto permanente, a Folha de S. Paulo se esforça para entrevistar uma figura do terceiro time da extrema direita brasileira. Só para afrontar Alexandre de Moraes.

É esse o objetivo da tentativa de dar voz e palanque ao ex-assessor especial do governo Filipe Martins, que trabalhava para Bolsonaro quando fez, em 2021, aquele gesto supremacista com os dedos no Senado.

Aquele mesmo investigado pela suspeita de envolvimento na elaboração ou no leva-e-traz da minuta do golpe. A Folha, que vem tentando cercar Moraes, agora quer entrevistar o sujeito.

Com que o objetivo? Para que ele diga que ficou preso injustamente, por ordem de Moraes, sob a acusação de que havia deixado o país junto com Bolsonaro. Martins quer dizer de novo que não viajou, porque nunca tentou fugir. E assim ele vai investir junto com a Folha contra Moraes.

Seu caso pode ser resolvido, como já foi, com uma notícia sobre o que teria sido a injustiça. Mas entrevistá-lo? Para compensar o que a Folha não achou de relevante nos seis gigabytes do telefone de Eduardo Tagliaferro, o ex-perito do TSE?

Moraes negou o pedido de entrevista, porque Martins está em liberdade condicional. E agora se cria mais um embate em torno de liberdade de imprensa e da censura imposta pela Justiça.

O ministro pode ter exagerado ao impedir que o supremacista seja ouvido. Mas que conversa é essa de entrevistar o indivíduo? E numa hora dessas? Qual é a importância de Filipe Martins? O que os leitores ganham com isso?

O Brasil pegando fogo, e a Folha querendo ouvir um mandalete do golpe? Um subalterno que tenta se transformar, com o patrocínio da Folha, numa das grandes vítimas das perseguições de Moraes.

Parece, mas só parece, que esse é um duelo de um jornal contra um ministro do Supremo. É mais do que isso. É uma tentativa da Folha de manter os ataques a Moraes, para que o apito de cachorro continue sendo ouvido.

A primeira manchete contra Moraes, no dia 13 de agosto, quando o jornal se queixou da desobediência a ritos por parte do ministro, não surtiu o efeito desejado. Textos publicados em sequência também não tiveram impacto.

Enquanto se constatava que os ataques ao STF eram frágeis, aumentaram os indícios de que a Folha pode ter obtido as mensagens vazadas ou com a polícia de São Paulo ou com o perito do TSE que trocava informações com assessores de Moraes.

Moraes determinou abertura de investigação, para saber quem vazou o conteúdo do celular de Tagliaferro para Glenn Greenwald, o jornalista contratado pela Folha para atacar o próprio Moraes.

E a Folha acusou o golpe. Porque poderemos ficar sabendo que, mais uma vez, como aconteceu na ditadura, o jornal não é seguidor de ritos de conduta do bom jornalismo.

E aí está a continuação da guerra de um veículo que escancara a conexão com a extrema direita contra um ministro que tenta cercar os extremistas. É óbvio que a história da entrevista com o supremacista é uma tentativa de represália.

Enquanto os incendiários continuam agindo, o jornalismo da Folha tenta ouvir um bolsonarista sob investigação, sem nenhuma preocupação com as suspeitas de que está jogando no time do fascismo.

Moisés Mendes é jornalista e escreve quinzenalmente para o Extra Classe.

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