Tamanho não é documento, segundo um antigo refrão dos baixinhos. Mas no Brasil tamanho é álibi.
Nos desculpamos muitas coisas porque somos grande demais. O problema não é de caráter, é de extensão territorial.Temos fronteiras remotas de onde vêm congressistas estranhos. Temos bolsões pré-históricos, temos vastas áreas conhecidas só por bichos e satélites. Não se é deste tamanho impunemente. Mesmo quem pretende viver uma pacata vida de condado, com moral de Luxemburgo, não escapa: o tamanho do Brasil o acompanha como uma cauda de escola de samba, condicionando a sua vida. O tamanho nos explica. Está mais ou menos subentendido que para explorar esta imensidão uma certa dose de banditismo é necessária, ou pelo menos inevitável. Damos aos desbravadores uma licença tácita para terem escrúpulos inversamente proporcionais à área nacional. As empreiteiras não têm culpa do que fazem, é que o Brasil é muito grande. Rouba-se tanto porque há demais para roubar, a sopa é amazônica. Brasília é o que é porque está cercada pelo Brasil, esse infinito para todos os lados. É uma cidade sitiada pelo descomunal. Não surpreende que defenda interesses restritos: o corporativismo, no fundo, é um anseio por universos menores. Uma saudade da paróquia.
Mas países menores não são automaticamente mais virtuosos. O principado de Mônaco é uma escroqueria incrustada nas montanhas. Há países de um poste só que existem exclusivamente como endereço bancário para maracutaias internacionais. A paróquia pode ser tão criminosa quanto o continente, sem a desculpa da geografia. Agora mesmo a imprensa está cheia de perguntas e especulações sobre uma específica comunidade brasileira, o pequeno país dos banqueiros, consultores econômicos e autoridades monetárias e seus hábitos escandalosos de cohabitação. Neste caso tamanho também é destino: o país é tão pequeno e fechado que o incesto se torna inevitável. Também não é uma questão de caráter, a culpa é da intimidade.
Enfim, somos um país muito grande governado por irmandades muito pequenas. E pagamos pelos dois extremos.
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Nos Estados Unidos corria uma piada: se alguma coisa acontecesse com o presidente George Bush, os membros do serviço secreto encarregados da segurança do vice-presidente tinham ordens para matá-lo imediatamente. Quayle na presidência era impensável. No Brasil, a eleição de Michel Temer para dirigir a Câmara e de Antônio Carlos Magalhães para dirigir o Senado – o que os coloca em terceiro e quarto lugar na linha de sucessão, depois do Marco Maciel – tornou essa medida hipotética impraticável. Impedido o impensável, quem assumiria em seu lugar seria o lamentável, cujo sucessor direto seria o absurdo. Em vez de uma providência radical mas singela para evitar o pior, seríamos obrigados a um massacre, com graves repercussões internacionais.
Por isso, já dei ordens em casa. Se acontecer alguma coisa com o presidente Éfe Agá e ele for obrigado a largar o cargo – me matem.
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Nada mais patriótico, hoje em dia, do que tentar afastar o Éfe Agá do ACM. Deve-se iniciar uma campanha de intrigas nesse sentido, pelo bem do país. Eis algumas sugestões.
Deve-se contar ao ACM que Éfe Agá confidenciou a amigos que comer bucho de bode no Ceará não foi nada, duro foi engolir sarapatel na Bahia com o ACM mastigando do lado.
Deve-se dizer ao Éfe Ága que ACM só se refere a ele como “galã de arrabalde”.
Ao ouvir isso, Éfe Agá retrucaria. “Ah, é? E ele, com aquele bigode de Adolphe Menjou de quermesse?”
Deve-se contar ao ACM que o Éfe Agá não consegue esquecer a última visita do Luis Eduardo Magalhães ao Planalto porque o cheiro da loção dele continua lá.
Deve-se dizer ao Éfe Agá que o ACM anda dizendo que o primeiro livro em português que o Éfe Agá leu foi “Reinações de Narizinho”. Na semana passada.
Deve-se dizer ao ACM que, segundo o Éfe Agá, ele não lê José Sarney porque acha “difícil”.
Deve-se alertar o Éfe Agá para não aceitar se ACM sugerir uma mãe de santo em vez de um massagista japonês para consertar sua coluna, é a mesma que ele recomendou ao Collor.
Deve-se avisar o ACM que o Éfe Agá está pensando em cassar a concessão da Globo, acabar com toda a rede – e exilar o Roberto Marinho no Uruguai!
Deve-se… Mas por que eu estou dando sugestões? A intriga é a única indústria de Brasília. Eles saberão o que fazer.