Não poderíamos nos despedir do Professor Coruja – o que fazemos hoje – sem antes nos referirmos ao seu “Novo Catecismo”.
Em 1885 o advogado Graciano Azambuja havia lançado em Porto Alegre um primoroso “Anuário”, destinado a valorizar a cultura da província, e lá no Rio de Janeiro o irrequieto professor logo percebeu que ali estava um novo veículo capaz de lhe proporcionar ampla comunicação com a mocidade do Sul.
Não perdeu tempo e já no ano seguinte o “Anuário” estampava sua colaboração. O que nos chama atenção, agora depois de um século, é a modernidade do tratamento, o tom coloquial com que Coruja deu seu recado.
Introdução: “Acostumado há muitos anos a ensinar meninos e a escrever-lhes compêndios de leitura, lembrei-me de organizar um novo e pequeno catecismo histórico-geográfico riograndense, que servirá também para muita gente grande. Vai pelo método socrático, isto é, por perguntas e respostas”. Nas primeiras perguntas, nomes e datas fundamentais, como a da fundação do presídio de Rio Grande, a posse do 1º governador da capitania, o 1º capitão-general, o 1º presidente da província. Depois põe-se a brincar com as vilas.
P – Qual é a vila mais antiga da província?
R – É a do Rio Grande.
P – Quantas vezes foi ela criada vila?
R – Duas. Uma em meados do século passado, e a outra nos princípios do presente século.
P – Há mais alguma vila duas vezes criada?
R – Há três: Vacaria, Lagoa Vermelha e Dores de Camaquã, que depois de viladas foram des-viladas e se acham hoje todas re-viladas.
P – Qual é a vila que tem nome de Santo de que não reza a Folhinha?
R – É a vila de S. Sepé, que é Santo que só se vê no Flos Sanctorum dos guaranis.
P – Qual é a vila que está fóra de seu lugar?
R – É a de S. José do Norte, colocada ao sul da província.
P – Há alguma povoação com privilégio de abóbora-menina, que por mais que cresça é sempre menina?
R – É Povo Novo, que por mais antiga que seja é sempre nova.
P – Onde não se tem medo nem de raios nem de tempestades?
R – Em Santa Bárbara da Encruzilhada e São Jerônimo do Novo Triunfo.
E assim por diante.
*Luiz Carlos Barbosa Lessa é historiador, folclorista e escritor