Ilustração: Celso Schröder
Ilustração: Celso Schröder
Foi ao tempo em que eu cursava o ginásio, em Pelotas, que meu irmão me abriu os olhos para a riqueza de temas que o Rio Grande do Sul poderia proporcionar a quem se interessasse por literatura e arte em geral. A essa altura eu já escrevia umas historietas meio que plagiando cowboys de quadrinhos, e dei uma guinada de 180 graus procurando personagens gaúchos. Um obelisco à frente da casa de meus pais em Piratini apresentava, em bronze, o perfil do rosto de Bento Gonçalves, e me apeguei neste vulto como nova fonte de inspiração.
Mas, desde o golpe de Estado de 1937, com a queima da bandeira tricolor e o recolhimento dos livros didáticos que versavam sobre o Rio Grande, as fontes informativas tinham desaparecido. Tive de remexer embolorados exemplares do Almanaque de Alfredo Ferreira Rodrigues. Até a ortografia era complicada. E ainda mais difícil que escrever era achar quem publicasse coisas gaúchas.
Para tanto tive de fundar um jornalzinho estudantil, “O Gonzagueano”, para poder divulgar meus trabalhinhos. Como era difícil escrever sobre o Rio Grande! Não haveria outra forma, mais fácil, de mostrar as coisas gaúchas?
Então eu tive um “estalo” sensacional para sair daquele sufoco. Dei a ideia, e a turma topou. Também vindos de Piratini havia o Clair, tocador de violão, e o Taylor, gaiteiro. Ensinei violão para o Germano, do Povo Novo. Convidei o Cléo Sanseverino, de Jaguarão, para ser o ritmista.
O Francisco Vidal, gaiteiro, falou com a mãe dele e passamos a ensaiar na sala da casa umas três vezes por semana. E aí anunciamos aos quatro ventos que havia surgido em Pelotas um novo conjunto musical, especializado na música do Rio Grande. O nome já dizia tudo: “Os Minuanos”.
Só que… todo o nosso entusiasmo foi águas abaixo pelo simples detalhe de que não havia música regional rio-grandense. Quando muito, “Prenda Minha”, “Boi Barroso”, “Velha Gaita”, “Tropeiro”, “Velha Tapera” e – surgindo naquela época – “Felicidade”.
Então, enveredamos para algo que dominava as paradas de sucesso: o tango argentino. Mas nossa sinceridade de adolescentes não quis continuar fingindo. A realidade nos convenceu de que amar o Rio Grande e divulgá-lo, era, mais que um ato de perseverança, birutice. Em menos de um ano “Os Minuanos” pediu licença e saiu de cena.
Luiz Carlos Barbosa Lessa é jornalista, historiador, folclorista e escritor.