Olha, eu tava quietinho, tava na minha. Cuidando pra não fazer marola. Nem sonhava em perder tempo achincalhando o governo FHC. Já tem muita gente cuidando disso de forma brilhante, inclusive ele próprio. Até que apareceu esse Avança Brasil. E deboche tem limite. Me desculpa as mesóclises. Mas não é possível que sujeito reedite a esta altura uma campanha eleitoral com cara de buchada de bode. E com esse nome. Com cara de Galvão Bueno. Avança Brasil. Brasil em Ação. Pra Frente Brasil, com quantos desses já nos empulharam? Tá falando com quem? Quem, é esse hipotético Brasil que escuta os chamados e parte célere para o avanço, como se fosse um zagueiro de terceira divisão da Paraíba quem cochicharam a óbvia mentira de que seu salário iria dobrar, encarando sozinho, lesionado e sem chuteira, a seleção do Universo? Quem é que ainda acredita?
Quem certamente ainda acredita é a consultoria que coordenou o projeto e recebeu 14 milhões de dólares. Porque foi isso que custou a brincadeira. Um plano destinado a não dar nada além de uns pontos no Ibope da presidência custou para ser escrito 14 milhões de dólares do nosso dinheirinho. Então, doividindo e arredondando pela população do Brasil Avançado, a parte de cada um nessa sacanagem é de dez cents.
Pois quero de volta meus dez. Não me interessa que não dê nem pro chiclé, é meu e eu quero de volta. Tá escutando, da buchada? Quero meus dez cents DE VOLTA. Vou entrar na Justiça, no Procon, se não me pagarem ligo pra Fundação Cobra Coral e encomendo um tempinho ruim pro Planalto Central. Dez cents, se não vale nada, vale mais do que essa palhaçada que vai tomar tempo da gente, do ilustre Congresso Nacional, iludir uns pobres coitados, agradar o Rei e os vassalos de sempre, enciumar o ACM e atrasar o avanço possível desse país por mais uma misérias plurianuais.
Olha, aos 13 anos, comunista e péssimo poeta, eu costumava ler os cadernos do IEPES onde escreviam Fernando Henrique Cardoso e Paul Singer. Não conseguia entender por inteiro o acadêmico FHC e acabei esquecendo o que li, como ele pediu. Mas Paul Singer era muito claro, mesmo para um trezeanista, desmascarando o milagre do Médici com estatísticas irrefutáveis. Hoje assisto perplexo a um deles dois se valer de números fictícios para criar um futuro milagroso no mais alto estilo padinho ciço. Grande Paul Singer.
Não há de for nada. Setembro promete. É claro que todo mundo vai esquecer o que nem foi ele que escreveu. E a primavera da pré-estréia de um novo milênio clama por amor, esperança e reconciliações. Ainda bem. Setembro promete – e cumpre. É apenas um mês, com tudo de bom e de ruim que nele possa acontecer. Fosse um plano desse governo, o máximo que poderíamos esperar dele seria outubro.
*Nei Lisboa é cantor e compositor