OPINIÃO

Passe bem. E obrigado

Luis Fernando Verissimo / Publicado em 21 de maio de 2000

Sou contra a pena de morte por princípio, mas admito exceções. Pessoas que contam anedotas como se fossem histórias verdadeiras que aconteceram com elas e só no fim você descobre que é anedota merecem a guilhotina. Telefonistas que perguntam “Da onde?”: forca. Donos de telefones celulares que não têm nada para dizer mas fazem questão de usá-los em público só para mostrar que têm telefones celulares, e transformam você em confidente involuntário até de detalhes do seu furúnculo: garrote vil. E desmembramento. Mas pensemos nas coisas boas da vida, no amor, nas flores, nos pássaros… Se bem que nunca entendi bem por que os pássaros são considerados símbolos de despreocupação, liberdade e alegria de viver. Não conheço um passarinho que não seja nervoso, que não viva com ar de pânico permanente. Aquele ar de quem está sempre esperando o pior, é ou não é?

Ainda estou para ver um passarinho saboreando o que come, ou espichado em algum galho, barriga para cima, pegando um sozinho. Passarinho está sempre ocupado, sempre preocupado, e sempre de passagem para outro lugar. Deve ser o bicho mais estressado que existe. Nada compensa essa agitação permanente, nem a capacidade de voar, que lhe deve trazer outras angústias. Condições meteorológicas, planos de navegação etc. Aposto que qualquer passarinho trocaria suas asas por uma vida pachorrenta de leão, ou até de minhoca. Tudo só para poder relaxar um pouco. E já que estou meio amargo mesmo, um pensamento final. Nosso dilema continua sendo que nós nos livramos da morte livrando-nos do corpo e só nos livramos do corpo morrendo. Era o que eu queria dizer por agora, obrigado. E passe bem.

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