Conceitos básicos de sociedade e cultura – 4
Desde o alvorecer da humanidade, durante milênios, e ainda hoje, boa parte da cultura é feita e transmitida espontaneamente, por assim dizer instintivamente; e, no tocante, à cultura material, ergológica, utilizam-se os próprios meios fornecidos pela natureza, ou instrumentos rudimentares ao alcance de qualquer um. É mínima a sofisticação tecnológica. Os problemas são resolvidos à base da tradição, transmitida de geração a geração pela família e pelo grupo local.
A transmissão de ensinamentos se faz no dia-a-dia, não existindo nenhuma categoria profissional que assuma conscientemente a missão de ensinar. As especialidades ocupacionais são transmitidas naturalmente pelas mulheres mais velhas às mais jovens, pelos velhos guerreiros aos principiantes, pelos experimentados caçadores aos calouros, e assim por diante. Todos ensinam, naquelas áreas de sua competência. Daí resultando uma espécie de cultura comunitária, a que William Thoms deu o nome de “folk-lore”, de difícil tradução para o português, algo assim como “sabedoria do povo”. Em sua trajetória ao longo dos anos o “folk-lore” tem se expressado fundamentalmente através da linguagem oral e, freqüentemente, vale-se de ensinamentos concisos – os provérbios – e de construções teóricas super-compactas, capazes de serem expressas por uma ou duas palavras – os mitos.
Na cultura espontânea, ou folk, a maioria das pessoas sobrevive manipulando coisas: a flecha, o anzol, a enxada, o tear, a agulha, etc. O artesão se caracteriza como produtor de coisas úteis – que podem ser, também, belas. Seu sistema de trabalho, manual, aproveita matéria-prima gratuita ou de pequeno valor pecuniário. Uma única pessoa, quando muito auxiliada por aprendizes, realiza o trabalho do princípio ao fim e cada peça produzida resulta única, reveladora de qualidades nitidamente pessoais.
Neste estágio – quando ainda não apareceu uma instituição especificamente voltada para a transmissão de ensinamentos – pode-se dizer que toda a educação é “folclórica”, ou todo o folclore é “educacional”.
Já então podemos conceituar Educação em seu sentido lato: é o processo pelo qual o indivíduo adquire, pela aprendizagem, os hábitos que o capacitam a viver de acordo com os padrões de uma determinada sociedade. Tal aprendizagem começa na primeira infância e se vai pela vida afora. A sabedoria popular já o disse: “Vivendo e aprendendo…” Mas a explicação dos fenômenos da natureza e da sociedade ainda é modesta, resultando na proeminência de uma área ainda difusa onde predominam as forças sobrenaturais. Os mitos, em tal circunstância, serão arquétipos acima do homem, no olimpo dos deuses ou configurados nas expressões violentas da natureza.