Sem essa de ficar culpando o governo, meu chapa, ou achando que o racionamento de energia não vai chegar aqui. O negócio é agir desde já, prevenindo-se, e contribuindo como bom cidadão para que o resto do país não fique às escuras. Aqui vão algumas dicas pra gauchada enfrentar o inverno com consciência e abnegação por essa cruzada de salvação nacional.
Iluminação: pendure um castiçal ou uma lanterna em cada peça da casa, se possível, e distribua crachás fosforescentes entre os moradores. Se for preciso acender um abajur, aproveite para ler o jornal em voz alta, e todos se informarão ao mesmo tempo. Cuidado ao servir alimentos quentes ou dar injeções.
Aquecimento: aposente as estufas ou qualquer outro aquecimento elétrico. Experimente apertar todos no sofá da sala com um cobertor grande e o cachorro por cima. Ou arrume um tonel de gasolina e vá realimentando aos poucos com papéis velhos, livros de auto-ajuda, parte da mobília, etc. Bom também para cozinhar marshmellows.
Chuveiro elétrico: reduza o tempo do seu banho para 37 segundos, às segundas e quintas-feiras, e agende banhos coletivos com a família e os vizinhos. Enquanto um se enxágua, o outro se ensaboa, e vice-versa. Não se esqueça de deixar a chave na posição “verão”, e um poster de uma praia do Caribe na parede do box pra completar o efeito psicológico. Por via das dúvidas, faça um bom estoque de perfumes e desodorantes.
Geladeira e freezer: sempre que possível, retire de uma só vez todos os alimentos que vai usar. No primeiro dia do mês, digamos. Pensando bem, desligue e ponha à venda o freezer. E não use a parte traseira dos aparelhos para secar meias e cuecas. Isso não vai produzir nenhuma economia de energia, mas pô, falta de higiene tem limite.
Microondas: pode esquecer. Descongele a comida na torneira da pia, com 72 horas de antecedência. Ou corte em cubinhos e sirva como sobremesa, picolé de frango com catupiry.
Ferro elétrico: procure evitar o uso, passando as camisas com um rolo de massa pré-aquecido no forno.
Televisão: essa é mais difícil, mas tente convencer a família a trocar a novela na TV por uma leitura dramática do resumo do capítulo. Funciona como terapia de grupo. Se não der certo, ao menos desligue o aparelho durante os comerciais e os finais de frase previsíveis. Por exemplo, entre dois personagens apaixonados, quando um disser “Eu te…”, você pode desligar e voltar só depois do “…amo!”. Também evite dormir com a TV ligada. Se não der certo, evite dormir. Aliás, do jeito que a coisa anda, não custa deixar um olho aberto até de manhãzinha, só pra conferir, que pode ser que um dia desses o governo resolva racionar o sol e ficar só com a peneira.