Arte: Ricardo Machado
Arte: Ricardo Machado
Na Escola Lucinda de Poesia Viva, onde se ensina a falar poesia sem ser chato, há três anos oferecemos, gratuitamente, recitais pela cidade, pelo país e assistimos ao alvoroço do público lotando livrarias e teatros, só para ver a poesia de Manoel de Barros, Drummond, Bandeira, Adélia, Quintana, Marta Medeiros, Cecília, Vinícius e tantos outros, no centro do palco.
No recital que fizemos sobre Fernando Pessoa no consulado português, havia um ilustre expectador, José Saramago; que segundo suas próprias palavras, saiu dali com a alma a cantar.
Ainda no quesito utilidade, não podemos esquecer a importância fundamental da poesia da música popular brasileira na formação sócio-político-cultural desse país, principalmente a partir dos anos 60.
Ora, foi através da voz poética e iluminada de compositores como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Tom Zé, só para citar alguns, que se pode criar uma cidadania possível sob os escuros anos da ditadura. Foi aquela poesia cantada que norteou nosso sonho e garantiu, muitas vezes a preço altíssimo, nossa liberdade física e criativa.
Há uma outra estória muito ilustrativa de uma aluna minha, uma senhora de 77 anos que perdera o neto de 10 anos. Ela me contou que durante muito tempo teve que encostar sua dor de avó para dar suporte emocional à filha, mãe do menino.
Bem, para encurtar o assunto, o remédio que iniciou o período de conforto e equilíbrio da família com a triste realidade, foi o poema de Carlos Drummond de Andrade chamado “Ausência”. Em seus versos o poeta mineiro diferencia a ausência da falta e prova que a ausência é na verdade uma intensa presença ausente.
Na verdade, entre suas infinitas funções, a poesia revela dons, inspira e produz leitores a cada dia. Diante dos inúmeros depoimentos e experiências que tenho por este mundo afora, de plateias repetentes e inéditas, de pessoas que dão seu testemunho visceral do quanto a poesia transforma e transformou suas vidas, estou segura de que a poesia é revolucionária e diferente do que afirma o infeliz aposto do meu colega Sérgio Rodrigues, a poesia é arte de sublime utilidade.
Talvez valesse a pena marcar um verdadeiro encontro com ela. Dou uma dica: ela continua no centro do palco.
Elisa Lucinda é colunista do Extra Classe – elisalucinda@radnet.com.br