Tudo muito tímido ainda, nestes começos. E o próprio ensino particular custou a se manifestar. Somente no alvorecer do século XIX despontaram as primeiras escolinhas privadas, graças a professores pioneiros como o “Amansa-Burros” (Antônio d’Ávila), o “Tico-Tico” (Antônio Paraíso Mariano) e o “Marimbondo” (José Maria da Silveira).
Mas o primeiro mestre a colher real prestígio na sociedade sul-riograndense, com o reconhecimento de que efetivamente contribuía para o engrandecimento intelectual e moral dos guris, foi o Padre Tomé Luís de Souza. Nascido em Santa Catarina em 1770, aqui veio ter com uma enorme disposição para dedicar-se a algo mais que o atendimento religioso a seus paroquianos. Ao abrir sua escola particular, desvendou novas perspectivas para o aprimoramento da nova geração.
Pelos aspectos materiais, sua escolha primava pela extrema simplicidade: uma mesa, uma cadeira, um tinteiro, alguns mapas murais, os bancos para a alunada sentar. Cada aula compreendia três secções: preparatória, disciplinar e aula propriamente dita. Na parte preparatória, diligenciava o Padre Tomé para que os guris inventassem brinquedos e botassem para fora sua individualidade. Na parte disciplinar predominavam tarefas diretamente relacionadas com as matérias a aprender, e só excepcionalmente o professor apelava para a palmatória e a vara de marmelo.
Pelos aspectos intelectuais, porém, sua escolinha ganhou notoriedade. Tudo era feito para que os meninos se sentissem plenamente à vontade, cônscios de que ali se encontravam num “segundo lar”. Aliás, já nas primeiras aulas cada um deles passavam a ser uma outra pessoa; e foi assim, por exemplo, que Antônio Álvares Pereira virou “Coruja”. Para sempre.
Dentre centenas de alunos seus, teve destaque D. Feliciano Prates. Ao ser sagrado Bispo do Rio Grande do Sul, uma multidão foi acolhê-lo em seu desembarque no cais de Porto Alegre. No meio da multidão, Padre Tomé. E quando este se ajoelhou, como os demais, para beijar o anel do bispo, foi quase um escândalo ver o bispo também se ajoelhando, para ter seu anel beijado pelo inesquecível amigo e professor.
O velhinho Padre Tomé faleceu em 14 de dezembro de 1858, quase indigente, pois tudo quanto ele ganhava era reaplicado na própria escola ou era distribuído com muito amor, entre os pobres de Porto Alegre. Uma beleza de coração.