O Rio Grande do Sul, como se sabe, é um país que fica entre o Uruguai, a Argentina e o Brasil. Sua língua é um português engraçado, que os brasileiros não conseguem dominar. Já foram feitas várias novelas ambientadas no Rio Grande do Sul, com atores brasileiros, e a pronúncia foi sempre um problema. Ou ficava caricata demais, ou acabava sendo uma mistura de gaúcho (o idioma local) com brasileiro. Há pouco uma escola de samba do Rio quis homenagear o país vizinho e baseou seu enredo em Porto Alegre, sua capital. Foi uma homenagem bonita e simpática, mas só mostrou como o Rio Grande do Sul continua sendo um mistério para o Brasil. Se o Rio Grande fosse do extremo Sul, e ficasse na Terra do Fogo, a estranheza se justificaria. Mas não, é um país limítrofe. Fica ao lado de Santa Catarina, a uma hora e pouco de avião do Rio. Mesmo assim o mistério continua.
O fato é que o Rio Grande do Sul sempre foi difícil de entender. Sua política, por exemplo. Quando era um país totalmente agropastoril já tinha produzido lideranças progressistas, ou no mínimo liberais. Antes da industrialização marcar claramente a ascensão da zona colonial sobre a zona da economia campeira tradicional já existia um movimento trabalhista importante no país. Saído de onde? O Rio Grande do Sul sempre desafiou teorias. E apesar dos paradoxos, ou por causa deles, a política local influenciou a política do grande vizinho do Norte. O Rio Grande do Sul, inclusive, já invadiu o Brasil, e muitos políticos gaúchos – sem falar em generais – tiveram papel destacado na sua História. Mas nem assim a incompreensão acabou.
Agora mesmo, viajantes que chegam ao Brasil do Rio Grande do Sul trazem relatos conflitantes. Desde que surpreendeu de novo e elegeu um governador do PT (que ganhou, segundo algumas interpretações, porque seu bigode era mais autêntico do que o do adversário), o Rio Grande do Sul, de acordo com quem conta, se transformou no segundo país comunista da América, um país em ruínas onde a oposição é acuada, a imprensa é perseguida e a crítica é calada e investidores estrangeiros são corridos a chicotaços para a Bahia, ou um país que, pelo menos comparado com o Brasil, não vai tão mal, apesar de uma oposição intransigente, uma imprensa contra e uma reação raivosa.
Qual é a verdade, quer saber o Brasil. Mistério.