A alegação do deputado Pinheiro Landin — que estava sendo processado por comércio ilegal de hábeas-corpus, renunciou para não ser cassado, manteve seus direitos políticos, foi reeleito e está de volta na Câmara — de que não pode mais ser processado porque seu mandato agora é outro, o que significa que para todos os efeitos legais ele também é outro, não deve ter causado muito estranheza entre os seus pares. Pelo menos não entre todos. Com alguma adaptação segundo a gravidade das faltas, o argumento serve para explicar a acolhida que tiveram os senadores José Roberto Arruda e ACM e o ex-senador e agora deputado Jader Barbalho, que também renunciaram para não serem cassados, na volta ao Congresso que quase os cassou. Uma acolhida que não teve nada de extraordinária — o que é extraordinário. Se não fosse o novo escândalo em que parece estar metido, o ACM teria até recebido a presidência de uma das comissões mais importantes do Legislativo, como se nada tivesse acontecido. Pois para todos os efeitos corporativos, nada realmente aconteceu.
A tolerância com os renegados reintegrados tem uma causa nobre e outra prática. É nobre a inferência que o processo democrático purifica e regenera. Os congressistas citados não apenas foram reeleitos depois do que aprontaram, foram consagradoramente reeleitos. Os eleitores ou os inocentaram ou disseram que os queriam de qualquer jeito, culpados ou não, e eles podem dizer que estão relegitimizados pelas urnas, eticamente restaurados e moralmente zerados. Ou seja, que são outros, mesmo nos casos, como o do ACM, em que todas as evidências são de que continuam os mesmos. A razão prática é que assim se evitam constrangimentos de parte a parte, dos quase cassados e dos seus pares. O que aconteceu, aconteceu em outra vida, nunca se sabe quando pode acontecer conosco também e, afinal, é impossível legislar com saia justa.
A revista americana “Business Week” acaba de publicar uma entrevista com uma demógrafa que fez uma estimativa, a pedido do Departamento do Comércio americano, dos civis mortos na Guerra do Golfo de 91. Segundo ela, morreram 13 mil civis iraquianos durante a guerra e mais 70 mil dos efeitos da guerra na infra-estrutura do país, não incluindo as milhares de vítimas do boicote econômico que viria depois. Na época, Dick Cheney, então secretário de Defesa, dizia que era impossível avaliar o número de civis mortos. A demógrafa foi dispensada e o seu estudo desautorizado, apesar de ser apoiado pela Associação Americana de Estatística. Está no“Salon”, um bom site para se medir o que vem por aí.