Teste de História: qual foi a última vez que um país invadiu outro sem provocação, para mudar seu regime e se servir dos seus recursos naturais? Acertou: a invasão do Kuwait pelo Iraque em 1990, que escandalizou todo o mundo. O Iraque ainda tinha o atenuante, se é que cabe o termo, de usar sua desproporcional superioridade militar sobre o vizinho para restaurar o que considerava um direito histórico e geográfico usurpado, e pressupunha que teria pelo menos a tolerância dos então fãs do Saddam no governo americano para a agressão. Os Estados Unidos atravessaram meio mundo para atacar o Iraque sem qualquer justificativa parecida. A única semelhança entre as origens das duas invasões é a premeditação. Anexar o Kuwait era um velho sonho iraquiano, dominar o Iraque estava nos planos – não presumíveis: declarados, postos no papel – de Richard Perle, Paul Wolfowitz e outros ideólogos da extrema direita que hoje guia o Bush. A ferida de 11/9 explica a aparentemente cega truculência com que os americanos se atiraram nesta aventura, mas a fria razão por trás da ação estava pronta muito antes dos atentados. Tudo, inclusive o controle direto das reservas de petróleo da região e o desdém pelas Nações Unidas, está na pregação neoconservadora há anos, os pensadores da hegemonia sem desculpas americana só não contavam com uma oportunidade como a que lhes presenteou o Osama bin Laden. Wolfowitz, que é o segundo homem do Departamento de Estado abaixo do desconfortável Colin Powell, disse que os ataques com antrax logo depois do 11/9 (nunca explicados, talvez porque descobriram que eram obra de um maluco doméstico, com origem em laboratórios americanos) já eram motivo suficiente para invadir o Iraque. Só teve que esperar um ano e meio. No fim o grande vencedor destes dias de medo e incerteza é Osama bin Laden, que odeia os Estados Unidos, despreza o Saddam, e, se estiver vivo, deve estar babando na barba com a confusão que armou. O Saddam já dançou, os americanos são os bandidos do momento, a indignação do Islã aumenta, o mundo está como o Osama gosta. Nas montagens do cinema antigo, as cenas de horror e destruição tinham como fundo a imagem do supervilão responsável esfregando as mãos. Infelizmente, ainda fazem filmes de Fu Manchu como antigamente.