Venho pensando em como a vida é parecida com a lavoura, nos plantios, nas colheitas. E é claro o plantador não planta só uma vez; ao contrário, replanta sempre para sempre colher. E a colheita tem lá suas manhas, suas vontades, acasos e independências: há frutos cujas sementes se espalham sob as mãos do vento, exímio semeador. Há os que caem e se racham no impacto da queda na terra e nela se transformam e a transformam em adubo, cujo silencioso trabalho só aparecerá no efeito da próxima safra; há o que não se plantou mas que nasce natural no meio da mata e nos abraça por ser mato e espontaneidade. E há também os espetáculos dos processos: a brotagem, o crescimento adolescente das hastes, as estruturas e as direções dos galhos, a novidade variada dos verdes das folhas, as vastas cabeleiras das copas, os estágios dos frutos e mais a muda cavação das raízes com seus braços vencedores recém-nascidos desbravadores dos mistérios do solo. Há os erros das tentativas, plantas que não são nativas daquela terra ou daquela estação, não são de sol ou não são de sombra e por isso ali ou naquele tempo não dão. Por isso não se deve desistir à primeira tentativa, diante de uma frustração. Muitas circunstâncias envolvem e determinam o destino de uma lavoura. E quem planta deve saber conduzir-se desde a preparação da terra até os riscos de secas e temporais. Assim é a vida, nosso latifúndio sem certidão, sem escritura mas legitimamente nossa. Há que se ter firmeza, determinação, persistência, coragem e paciência.