Ainda não se sabe qual vai ser a declaração do Lula para o próximo dia das mães, mas a correria entre os assessores já é grande, assustados com a possibilidade de ele fazer alguma referência a traseiros ou lembrar novamente a sua própria mãe, ao estilo da famosa “sou filho de uma mulher que já nasceu analfabeta”. E espera-se que não inclua a visita da Condoleezza Rice em nenhum comentário gracioso, já que a secretária de estado nem sequer é mãe, é solteirona convicta, e dada ao mau humor de bombardear seus desafetos.
Circula na internet uma coletânea de gafes e pérolas cometidas pelo presidente, no geral muito engraçada, ainda que uma ou outra escolha da lista possa revelar o preconceito ou a cor partidária de quem a construiu. O Lula a atropelar a língua portuguesa e a geografia não é nenhuma novidade, e exatamente dessa forma é que foi eleito por ampla maioria de votos. Ninguém esperava, mesmo julgando desejável, que depois da posse ele se transformasse automaticamente num intelectual, por conta talvez de fluidos do seu antecessor presentes no gabinete presidencial.
Mas a comoção que as declarações do Lula vem despertando, de tempos para cá, tem outra motivação. Uma coisa é a falta de instrução formal, perfeitamente dispensável para quem demonstrar clara percepção da realidade e habilidade política para um cargo. Outra coisa bem diferente é arrogar-se uma posição inquestionável e, em bom ou mau português, atribuir ao resto do mundo a culpa pelo que se faz de ruim ou se deixa de fazer.
Agora somos nós os responsáveis pelas altas taxas de juros no país, o povo brasileiro, o populacho com suas minguadas contas bancárias, porque, na visão do presidente, não levantamos o traseiro das cadeiras para procurar juros mais baixos em outra instituição financeira. Afirmar tal coisa chega a ser um escárnio, um deboche de quem acreditou na esperança que ele representava.
Não sei se é alguma coisa na água de Brasília ou apenas o efeito do poder com seus eflúvios perversos e afrodisíacos, mas os personagens que lá se instalam costumam esquecer de seu passado, do que escreveram e do que gritaram em comícios, e vivem uma espécie de realidade paralela, um ritual messiânico e midiático do qual nunca mais retornam. Tomara que o Lula consiga escapar dessa maldição, levantando ele mesmo o traseiro da cadeira para enxergar melhor o Brasil que nele tanto confiou.