Fugi do Rio. Vim para meu reino sagrado, que me organiza, serena, ilumina e alimenta. Como é lindo o Espírito Santo e como é luxuoso ser nascida dessa beleza. Eu sei que de Caymmi a Paulinho Moska todo o mundo canta a sua terra e todo mundo se esforça para provar que a sua é a mais bela. A diferença é que eu não preciso fazer força. O Espírito Santo é muito particular. Estas palavras são palavras de quem, além de viver numa cidade ma-ra-vi-lho-sa, anda o mundo e conhece muitos mares, muitas paisagens, muitas paragens ditas paraíso, portanto, relaxada, estendida sobre a rede dessa confortável comparação que facilmente conclui: o Espírito Santo não tem concorrente.
Caminho agora sobre as dunas e lembro de mim pequenina lá na varanda da casa de Itaquari, olhando a primeira ponte de minha vida, a Florentino Avidos, e, sempre com pedaço de mar na minha visão, em Itaquari tive a forração que ia dar fornecimento de quintal ao meu verso para sempre. As idas ao convento da Penha em Vila Velha desde pequena, a dramática estética da sala dos milagres, a vista da beleza que dava vertigem, os 360 graus incluindo baía, mar e continente jamais sairão de minha memória, os mascarados na Praça Oito no carnaval, os segredos góticos da Cidade Alta, o caldo de cana Lyra, os passeios com minha mãe e meu pai olhando as vitrines na Rua Sete, o Penedo, as barcas, o parque infantil dentro do parque Moscoso onde estudei, a Esplanada, a UFES e tudo que essa cidade me ensinou; saí do Espírito Santo querendo o mundo. E viver de minha arte nele. Depois quis que todo o mundo conhecesse o Espírito Santo. Agora mesmo passei pela estrada que dá aqui no Reino, a BR 101-Norte, e vim olhando as paisagens, gastando a máquina fotográfica, enquanto o carro deslizava na estrada muito bem cuidada, reparando na belezura de paisagem margeando a viagem ensolarada das tardes capixabas, como se eu fosse uma turista. Como se meus olhos não conhecessem essa beleza. Logo me vem à cabeça uma lista de gente que tem de conhecer isso aqui. O Espírito Santo é um segredo para o Brasil, pouquíssimas pessoas conhecem, falta muita gente na montanha da Pedra Azul, falta muita gente saber que Itaúnas existe. Ando por aí e todo mundo me diz: “Tenho orgulho de você, capixaba de verdade”, os fãs me dizem emocionados, para mim que sonhei no espelho do mar de Jacaraípe, Manguinhos, para mim que mirei meus olhos no espelho do mar da Praia da Costa, Itapuã, Barra do Jucu, ser hoje espelho da capixabice para uma criança ou um adulto é quase uma glória. E será uma Glória completa, sem o quase, o dia em que o Brasil conhecer o Espírito Santo, assim como conhecesse a Bahia, conhecer nossas panelas de barro, nossos costumes, nossas comidas com coentro, nosso primeiro-mundismo em algumas áreas, nossa potência, criatividade, a exuberância de nossa natureza.
Quero espalhar para todo mundo, já está muito grandinho o meu Estado, já pode viajar sozinho, já pode sair daqui e mostrar para o país o tamanho do nosso documento.
Desço as dunas molhada e salgada do mar. Agora me chamam com sorriso as águas benditas do rio que vão meu sonho banhar.