OPINIÃO

A pausa das palavras

Por Fraga / Publicado em 28 de julho de 2006

Altivo e altaneiro, o alfabeto alojou-se nas almofadas e ali, de alpercatas, alumiou a alameda:
– Alguém aí almeja aliterar alegremente?
Palradoras e parladeiras, as palavras propuseram um porém. Pleiteavam, primeiro, as prerrogativas das provocações:
– Peraí, pessoal, podemos prosear perigosamente ou parodiar prolongadamente.
As letras, letradas e literais, ligaram-se livremente:
– Legal! Logo levaremos o louvor da lavra, as láureas e loas!
Os termos, que trocavam truques truncados e tontos de tantos trocadilhos, tremiam de torpe torpor torpedeando a trupe. Tripudiavam o torneio, todos tentados a ter o troféu:
– Tão tá. Teremos da tolice à tagarelice total, do tête-à-tête à trela trivial.
As sílabas, sibilinas, silvaram sinônimos e suaves sutilezas, sempre sossegadas na selva de sentenças. Sábias e soberbas, salientaram:
– Será simples sair soprando sonoros sons…
Veementes, os verbetes vociferaram:
– Vamos variar a verbalização!
Os fonemas, falantes e falastrões, formaram frases fantásticas, falácias floreadas e finas firulas.
Algazarra e algaravia, além de alentadas, alardearam em aluvião:
– Alinhadas ou alteradas, alcançaremos o alarido!
Os termos torciam-se em tremendas trovas e tonitruantes textos.
Soou a sofisticação silábica, sedutora, sem sequer sensibilizar simpatizantes.
O palavreado se pronunciou:
– Parece patente a pobreza dos principais participantes. Peço o prêmio para a própria proeza particular.
Ferozes, os fonemas finalmente falaram francamente:
– Fiquem firme, façam fila, o fraseado fica na frente.
Ora lerdas ora lépidas, as letrinhas loquazes largaram-se no lazer lúdico, uma lufa-lufa no lero-lero leviano. Liam lívidos livros, loucos letreiros, letárgicas lápides.
Vigorosamente, verbetes valendo-se da verborragia vaiavam os vizinhos.
Os termos, teimosos e tranqüilos, trinavam:
– Teremos típicas tertúlias, tópicos tradicionais, tergiversações tediosas, talvez truculências.
Pensando no poder da persuasão, palavras prolixas proferiam preâmbulos patéticos, pronunciamentos proféticos, palestras pernósticas, profusão de pensamentos paulatinos.
Férteis na forma e feitio, fonemas festejavam, fazendo farra frasística.
Letras litigantes e lampeiras lustravam lendas laudatórias e legendas lógicas em luminosas lousas.
As sílabas, sobejamente sintéticas, soletravam sinais simétricos, sussurrantes sumários.
Alheio às aleatórias aliterações alhures, o alfabeto alertou:
– Alegorias alucinadas.
Finalmente, os fonemas finalizaram:
– Fim!

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