OPINIÃO

O Náufrago

Publicado em 24 de julho de 2008

Ressaca do jardim suspenso!
Despenco e penso:
Deus, que sacode foi esse?
O que foi este caldo, este caixote?
Era faxina , desilusão da pura e da fina?
Era uma parte da sina?
Então era outra vez névoa, era espuma,
era a força brusca do giro da roda da fortuna?
Nada responde.
Colho os versos de ilusão que
o amor deixou nas gavetas,
nas pistas, nos gestos,
nas pastas virtuais
dos computadores;
Colho rumores, desejos
e suspiros que ficaram nos
estertores das letras.
Colho torpedos, colho flores no chão de mim.
Estou falando do amor que havia na semana
passada, meu pastor!
Estou falando das palavras, das palavras de paixão
e de amor:
meu alimento profícuo,
meu elemento pacífico,
amplificador de minhas possibilidades,
minha dieta!
Ressaca do jardim suspenso!
A inspirada remessa de cartas,
bilhetes e declarações
chegou rápido aos porões do inabitável
e deslizou neles seus poderes, suas ocasiões.
Partiu-se aquela beleza!
Sou agora um ser brotado da queda de
uma estética emocional,
sou um ser regressado do tombo de um beiral alto
que crê romanticamente no amor.
Sou um afogado desesperado batendo
nos bancos de areia,
exposto ao tufão das memórias das frases.
Quase morto, quase.
Me espatifei.
Sobrevivi.
Ondas revoltas me lançaram
de costas às lascas finas dos corais.
Mas felizmente e como sempre,
um cardume de versos me esperava no cais!

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