Metrópole é uma acrópole que se esparramou morro abaixo. Megalópole é uma metrópole que se escarrapachou mapa afora. Necrópole é o que sobra depois que todas se foram.
Essas e outras urbes, em versões compactas, agradáveis de visitar, se encontram em Enciclópole, onde se concentra a maior população de palavras do planeta. Lugar harmonioso, perfeito para vocábulos se ocuparem na labuta do conhecimento e lazer das descobertas.
Tudo em Enciclópole, da vida secreta das palavras ao trânsito de informações, obedece a um rígido porém admirável plano diretor. Tão descomplicada é a circulação das palavras que não importa o tópico em que se esteja – tudo faz sentido, ninguém se desorienta.
Por isso nenhum visitante se perde nos quarteirões de verbetes e bairros temáticos. E se isso ocorre, se reencontra em meio a achados que não acharia sem estar perdido. Fortuita perdição em vários volumes, cujos índices funcionam como avenidas para quaisquer assuntos.
Embora a paisagem pareça plana, Enciclópole se situa num território exuberante: lá estão todos os acidentes geográficos do mundo, dispersos na topografia das páginas. Daí o turismo incessante, seja pelos monumentos ou pela profusão dos meios de transportes (desde os arcaicos aos recém-inventados). As famílias de palavras (gentílicos de todas as localidades, povos de todas as épocas) se deslocam o tempo todo, em busca tanto de novidades quanto de tesouros preservados.
Por conter miríades de seres, inclusive os extintos, Enciclópole exibe duas atrações imperdíveis: o jardim botânico e o zôo. O primeiro, paraíso com a flora universal, traz tudo catalogado com precisão. Enquanto você passeia por jardins, bosques e florestas, absorve informações inesquecíveis. Já o segundo, emociona pelo respeito à fauna: a área de taxidermia é imensa, recua até a pré-história. E as espécies vivas são exibidas em seu esplendor, em cativeiros de celulose.
Quanto à vida cultural, Enciclópole é insuperável: abarca todo o acervo de artes e ciências da humanidade. Em decorrência, as palavras são instruídas de berço, têm nível universitário e se dedicam a todo tipo de profissões e atividades. Como cidade-modelo, Enciclópole merecia ser imitada: lá convivem em paz o avanço e o obsoleto, o saber e a curiosidade, problemas e soluções. Até a geopolítica se apaziguou: as fronteiras são por ordem alfabética e as bandeiras desfilam unidas.
Para chegar à Enciclópole, pegue o menor atalho: uma estante.