Ilustração? Ricardo Machado
Ilustração? Ricardo Machado
A notícia da liquidação da dívida tantos anos depois induz a uma reflexão sobre os diversos andamentos, no sentido musical do termo, da História. Há períodos em que a História anda num allegro assai – o ritmo maluco da revolução da informática, por exemplo – e outros em que vem num andante larghissimo. Me lembrei da frase atribuída ao Mao quando lhe perguntaram quais tinham sido as consequências da Revolução Francesa: “Ainda é cedo para dizer”. Certo. Ainda é cedo para saber quando poderemos deduzir de algum rodapé que o século 18 definitivamente chegou ao fim, como a I Guerra Mundial com o pagamento da dívida alemã. De certa maneira, o que se discutia então é o que se discute hoje. Aquela história ainda não acabou.
No Brasil, temos nossa própria história inacabada, a dos 20 anos de regime militar. A liberação dos autos do processo do governo militar contra a Dilma conseguida pela Folha de S. Paulo pode apressar a sua resolução, se o resto da nossa grande imprensa for diligente como a Folha e cobrar toda a verdade daquele período negro. Assim como a nação tem o direito de saber a biografia da sua presidente eleita, tem o direito de saber como era o Estado que a torturou e manteve presa, e torturou e matou outros. Até hoje tem gente esperando para saber a simples localização de corpos para poder enterrá-los condignamente, e a informação lhes é sonegada. Neste caso, a lentidão da História também é uma forma de tortura.