O papel das divergências políticas no desenvolvimento do RS
Arte: Pedro Alice
Arte: Pedro Alice
Uma síntese das ideias daqueles que consideram as diferenças políticas um entrave ao desenvolvimento pode ser encontrado na prestigiada coluna de David Coimbra em ZH (p. 2, 29/4/2011). O autor realça o que alguns consideram o pensamento dominante do gaúcho, calcado na dicotomia entre chimangos e maragatos, bandidos e mocinhos, Grêmio e Inter, PT e anti-PT. Ainda segundo o autor, “essas são as causas do estrondoso atraso do RS”. Comparando as estradas congestionadas e a educação com as dos demais estados conclui que o RS anda para trás. Convém esclarecer que todas as metrópoles brasileiras e seus acessos estão literalmente congestionados por atividades, população e automóveis.
Vejamos alguns indicadores de desempenho de uma organização social e econômica forjada com base na pluralidade política. O Índice de Competitividade Estadual (ICE-F) calculado com base na Qualificação da Força de Trabalho (QFT), no Conhecimento e Inovação (C&I) e na Infraestrutura (IE) coloca o RS em quarto lugar entre os estados, abaixo apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal. No caso da QFT, o estado ocupa igualmente a quarta posição no país, enquanto é o terceiro em C&I. Na infraestrutura, considerada o patinho-feio da economia, o estado ocupa o quinto lugar de um total de 27 estados. Acaba de ser divulgado outro indicador, altamente significativo, elaborado pelo economista Marcelo Néri (FGV). Trata-se do ranking nacional de distribuição de renda entre os 5.568 municípios do país. Há 29 municípios gaúchos entre os 50 com maior percentual de famílias nas Classes A, B e C. Mais ainda, há seis municípios do estado entre os dez primeiros.
Esses indicadores comparativos refutam a tese de que, enquanto as coisas no Brasil estão acontecendo, o RS anda para trás. Essa posição, de alguma forma, privilegiada do estado no país nada mais é do que o resultado real da organização social, econômica e política dessa fração do território nacional. Isso tudo permite algum ufanismo da nossa parte? É claro que não. Convivemos no RS com problemas como dívida pública, déficits em serviços de educação, saúde e segurança, a exemplo do resto do país. São problemas endêmicos que exigem soluções inteligentes e radicais, do ponto de vista político. Um ingrediente indispensável na superação desses problemas é, certamente, a pluralidade política e ideológica.