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A questão que se coloca é: como a economia brasileira vai se comportar em 2012 em face desse ambiente externo adverso e às suas próprias potencialidades internas? Pelo andar da “carreta”, “as abóboras somente vão se acomodar” no longo prazo, o que significa que não se deve esperar impulsos ao nosso crescimento, vindos do front externo. Daí, só nos resta contar com a Ásia (China) e os nossos parceiros da América Latina e da África, esses com peso comercial muito menor.
Posto isso, o cenário que se desenha aponta uma importância estratégica do mercado interno no próximo período. Nesse sentido, há pelo menos três fatores que poderão dar fôlego à economia brasileira em 2012. O primeiro é a possível queda na taxa de juros básica (Selic), que segundo alguns economistas poderá alcançar 9% ao ano. Isso leva os juros reais a diminuírem, o que representa um forte estímulo à atividade econômica, tanto pelo lado do investimento quanto pelo do consumo. Observe-se que as taxas de juros praticadas por agentes privados já haviam despencado após o corte da Selic promovido pelo Banco Central em agosto último.
O segundo fator de crescimento, não desprezível, é o aumento do salário mínimo em, aproximadamente, 14% em janeiro de 2012. Isso representa um acréscimo de algo como R$ 46 bilhões aos que ganham essa remuneração – na ativa ou como beneficiários do INSS.
A propensão é que essa dinheirama adicional se destine totalmente ao consumo. Em 2011 estima-se que essa fração da população receba R$ 18 bilhões, quase três vezes menos do que receberá em 2012. Por fim, uma terceira fonte de estímulo ao crescimento tem origem no investimento público, que deverá aumentar em 2012 depois de uma redução da velocidade de expansão dos gastos em 2011, por parte da União, dos estados e dos municípios. Essas três esferas de governo representam em torno de um terço da economia, portanto, um peso considerável na formação do PIB. Tal esforço de investimento deve-se ao déficit de infraestrutura do país, que parece ter batido no teto, e à premência de eventos como a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016. Espera-se que prevaleça uma perfeita sincronização entre as três esferas de governo na condução desse programa.
Se esse arranjo for bem conduzido, poderemos tangenciar os efeitos mais perversos da crise externa e construir bases mais sólidas para o crescimento do país já em 2012. É possível crescer algo em torno de 3,5% com a inflação convergindo para o centro da meta ou não ultrapassando o teto. Além disso, será possível reduzir a pressão sobre a dívida pública e reduzir a apreciação do Real, abrindo espaço para um esforço de substituição de importações de manufaturados. Precisamos nos vacinar contra a “doença holandesa”, que parece estar rondando a economia brasileira.