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Tomando como exemplo os últimos 20 anos, podemos afirmar que o país encaminhou soluções para muitos problemas no atacado. A conquista da estabilidade dos preços, o tema da dívida externa saiu da agenda nacional (eliminando o garrote dos banqueiros internacionais, FMI, Bird e BID) e a arrumação parcial das contas públicas criaram as condições mínimas para que o país voltasse a crescer. Associado a esses resultados, as forças desenvolvimentistas (esquecidas nos anos 1980 e parte dos 1990) parecem ter renascido no país. Em função disso, o mercado interno passou a ser prioridade nas políticas econômicas (redução do desemprego, aumento real do salário mínimo e forte estímulo a alguns setores como a indústria naval, por exemplo) e o aproveitamento das possibilidades do mercado externo de commodities asseguraram taxas de crescimento mais elevadas do que nas décadas anteriores.
No século 21 o país parece ter recuperado a sua tradição desenvolvimentista, privilegiando a produção interna de segmentos dinâmicos como a indústria naval, a química e a petroquímica, por exemplo, ao mesmo tempo em que se transformou num importante player mundial na exportação de commodities. Todavia, todos esses avanços combinados com a crise (2008) nos países centrais e alguns entraves da política econômica (juros e câmbio), ainda remanescentes, têm causado todo o debate em torno da desindustrialização do país. A questão que se coloca é: Como o Rio Grande do Sul se insere nesse arranjo, ou ainda, que trajetória deve percorrer nas próximas décadas?
Esses resultados e uma bem concertada estratégia política e diplomática colocaram o país em outro patamar no plano internacional, assumindo um papel de potência emergente. Todas essas evidências têm sido motivo legítimo para “celebrações” oficiais e de muitos analistas, elevando a auto-estima da maioria dos brasileiros, o que é compatível com os bons índices de aprovação dos governos federal e de alguns estados.
Todavia, ainda contabilizamos um passivo expressivo nas áreas da Infraestrutura (rodovias, portos, aeroportos, saneamento básico), Educação (falta de mão de obra em todos os níveis) e Saúde. Essas deficiências, ainda à espera de soluções, tendem a constituir um freio ao crescimento econômico.
A persistência da crise internacional e a nossa incapacidade interna para encaminhar soluções, em especial para as áreas de Educação e Saúde, associadas com o permanente anúncio de casos “comprovados” de corrupção e desvios de recursos públicos, têm sido razões suficientes para que se coloquem dúvidas sobre os avanços alcançados pelo país. Neste sentido, as pessoas começam a dizer que o país que elas estão vendo não corresponde às avaliações positivas. A inflação não parece estar contida, as notícias sobre educação, saúde, segurança e infraestrutura registram atrasos na entrega de obras, superfaturamento, baixa qualidade na prestação dos serviços públicos. Começam a aparecer chavões como “todo o político é corrupto” ou “o servidor público é sinônimo de ineficiência”.
Essa percepção da realidade brasileira é preocupante, provavelmente movida pelo imediatismo e a ansiedade das pessoas em ver os problemas de educação, saúde e segurança resolvidos imediatamente. Talvez a velocidade no encaminhamento das soluções para as graves questões nacionais esteja abaixo do que é esperado. É possível que esse seja o ritmo que a capacidade do país permite imprimir na solução dos seus problemas estruturais. Se isso for verdade há, pelo menos, duas coisas a fazer: acelerar o ritmo das transformações e não deixar “a peteca cair”.