Ilustração: Ricardo Machado
Ilustração: Ricardo Machado
Espero não estar estragando o filme para quem ainda não o viu, mas Judi Dench deve ter dado um ultimato aos produtores: só faria mais este no papel de “M”, mas sairia de cena em grande estilo. Em nenhum outro filme da série, mesmo quando “M” ainda era homem, o personagem teve tanto destaque e foi tão decisivo na trama. A sequência final de Skyfall, mais inverossímil do que qualquer outra num filme cheio de desafios às leis da probabilidade e da gravidade, é, no entanto, um desenlace perfeito para o drama edipiano. Bardem e Dench abraçados, têmpora contra têmpora, ele propondo que os dois se matem com a mesma bala, é uma cena sem precedentes na história da série – mesmo levando-se em conta que desde que Daniel Craig assumiu o papel principal as histórias têm ficado mais densas. Sam Mendes não deve ter hesitado em dirigir Skyfall depois de ler o roteiro, o filme não fará nenhum mal ao seu currículo.
No fim de Skyfall, um homem volta a dirigir o serviço secreto inglês, inclusive com uma secretária chamada Moneypenny, como no começo da série. É uma espécie de restauração. A era da Judi Dench como “M” foi divertida, mas quem sabe para que atoleiros psicológicos nos levariam as implicações da relação de Bond com sua chefe, agora que se sabe que “M” era de “mãe”?
Ainda não ter idade era ficar pinoteando no partidor, indócil, como um cavalo esperando a largada. Não ter mais idade é ficar com esta impressão de que até um ato de revolta por tudo que não fizemos quando tínhamos idade e agora não dá mais, não seria, assim, apropriado para a nossa idade.
Chama-se vida essa lenta transformação da frase, de ainda não ter idade para não ter mais idade. Ou de poder ser, teoricamente, tudo o que se sonhasse, a poder ser, teoricamente, só papa. E por pouco tempo.