Ilustração: Pedro Alice
Ilustração: Pedro Alice
A taxa de suspensões nas escolas do Mississipi é, também, muito mais alta do que a dos demais estados. Legisladores americanos querem que as escolas tenham policiais armados também para resposta a casos de “indisciplina”, posição que ganhou força após o massacre de Newtown, em Connecticut. Nem todos estão de acordo, claro. Atualmente, o Departamento de Justiça tenta reverter práticas abusivas.
No Brasil, medidas como as do Mississipi despertariam a simpatia de grupos fascistas, mas não têm chances de serem implementadas. Vivemos, entretanto, a tendência de judicialização de conflitos, encaminhando às delegacias especializadas da criança e do adolescente (Decas) casos que, no passado, seriam normalmente resolvidos no âmbito da escola.
A maioria das escolas brasileiras não possui regras claras. Com esta expressão, me refiro à existência de direitos, deveres e procedimentos conhecidos por todos, dispostos em material impresso de ampla circulação. Os alunos não possuem estas regras; professores, funcionários e pais, tampouco.
Esta ausência é funcional ao descontrole e à reprodução de condutas indesejadas que acabam sendo enfrentadas por direções e professores mais com base na intuição do que em procedimentos técnicos amparados por estudos empíricos. A solução exige política pública que traduza as evidências sobre o que funciona no manejo de conflitos na escola. O tipo de pesquisa que não desperta maior interesse no Brasil.
Na ausência desta política, se agravam os problemas disciplinares e aumentam os casos levados a registro policial. O vácuo é preenchido pelas boas intenções e pela adesão dogmática a esta ou àquela doutrina, enquanto o clima escolar se deteriora e o medo se dissemina.
Crianças e adolescentes vivem situações difíceis na escola. Algumas podem mesmo ser fonte de muita dor, como as formas mais sérias do bullying. Os alunos precisam da autoridade para adquirir limites e a autoridade não é o resultado natural da posição que se ocupa, mas da admiração que se conquista. Eles devem aprender a superar antagonismos por pactos, exercitando as possibilidades virtuosas da palavra.
Um dos mais importantes desafios pedagógicos reside precisamente aí. As crianças não nascem sabendo como superar conflitos e as lições que trazem de casa apontam, não raro, para a imitação das respostas violentas. Os pais, afinal, quando batem em seus filhos, lhes ensinam apenas que a violência é meio legítimo para a superação de conflitos. Cabe à escola mostrar que não.