OPINIÃO

A Petrobras e os interesses em jogo na geopolítica do petróleo

Por Marco Weissheimer / Publicado em 13 de março de 2015

A Petrobras passou a ocupar nos últimos meses as manchetes dos meios de comunicação brasileiros, associada não ao início da exploração das reservas do pré-sal, mas sim ao tema da corrupção. Para além dos interesses políticos internos envolvidos na exploração das investigações sobre pagamentos de propina e outras irregularidades envolvendo funcionários da empresa, políticos e grandes empreiteiras, há pesados interesses econômicos e geopolíticos acompanhando o desenrolar dos acontecimentos. Há quem acredite que não se trata de acaso o tema da corrupção ter vindo à tona com força total justamente no momento em que a exploração das reservas do pré-sal começou a virar realidade. Não é preciso negar os casos de corrupção, ou rejeitar sua apuração, para considerar essa possibilidade e o que ela envolve.

Defendendo a apuração de todas as denúncias, a Federação Única dos Petroleiros divulgou um manifesto denunciando que está em curso “uma campanha visando à desmoralização da Petrobras, com reflexos diretos sobre o setor de Óleo e Gás, responsável por investimentos e geração de empregos em todo o país”, campanha esta que já teria prejudicado a empresa e o setor em escala muito superior à dos desvios investigados. “A Petrobras tem sido alvo de um bombardeio de notícias sem adequada verificação, muitas vezes falsas, com impacto sobre seus negócios, sua credibilidade e sua cotação em bolsa. É um ataque sistemático que, ao invés de esclarecer, lança indiscriminadamente a suspeita sobre a empresa, seus contratos e seus 86 mil trabalhadores dedicados e honestos”, diz ainda a FUP.

A Petrobras e os interesses em jogo na geopolítica do petróleo

Foto:Divulgação/ABr

Foto:Divulgação/ABr

Os resultados da empresa em 2014
Na avaliação da Federação dos Petroleiros, há “poderosos interesses contrariados pelo crescimento da Petrobras, ávidos por se apossar da empresa, de seu mercado, suas encomendas e das imensas jazidas de petróleo e gás do Brasil”. Esses setores teriam três objetivos principais: − Imobilizar a Petrobras e depreciar a empresa para facilitar sua captura por interesses privados, nacionais e estrangeiros; − Fragilizar o setor brasileiro de Óleo e Gás e a política de conteúdo local, favorecendo fornecedores estrangeiros; − Revogar a nova Lei do Petróleo, o sistema de partilha e a soberania brasileira sobre as imensas jazidas do pré-sal.

Contrariando o discurso catastrofista que sobrevoa a empresa nos últimos meses, a FUP lembra os excelentes resultados atingidos pela empresa em 2014. Entre eles, destaca os seguintes: a produção de petróleo e gás alcançou a marca histórica de 2,670 milhões de barris equivalentes/ dia (no Brasil e exterior); o Pré-Sal produziu em média 666 mil barris de petróleo/dia; a produção de gás natural alcançou 84,5 milhões de metros cúbicos/dia; a capacidade de processamento de óleo aumentou em 500 mil barris/dia, com a operação de quatro novas unidades; a produção de etanol pela Petrobras Biocombustíveis cresceu 17%, para 1,3 bilhão de litros. Além disso, em setembro de 2014, a Petrobras tornou-se a maior produtora mundial de petróleo entre as empresas de capital aberto, superando a Exxon-Mobil (Esso).

As novas reservas da América do Sul: 100 bilhões de barris
As implicações políticas e econômicas dos recursos da riqueza do pré-sal ultrapassam as fronteiras nacionais e envolvem toda a América do Sul. Segundo a Associação Latino-Americana de Integração Petroleira (Alip), na última década foram descobertas reservas estimadas em aproximadamente 100 bilhões de barris de petróleo na América do Sul, cuja exploração pode tornar a região autossuficiente no setor. A maioria dessas das novas reservas, cerca de 80%, vem do pré-sal brasileiro. Os restantes 20% foram descobertos na Colômbia, Argentina, Bolívia, Equador e Peru.

Essas novas descobertas e a queda da produção em regiões como a do Mar do Norte, alteraram o mapa geopolítico do petróleo despertando a atenção das grandes petroleiras mundiais para a região. A situação da Petrobras é acompanhada com atenção e interesse por essas grandes empresas petroleiras. Afinal, se as reservas do pré-sal brasileiro − estimadas pelo governo brasileiro entre 70 a 100 bilhões de barris − sejam realmente confirmadas, o Brasil passaria a ser o sexto país com as maiores reservas no mundo, atrás apenas de alguns países do Oriente Médio e da Venezuela. Hoje, o Brasil tem reservas estimadas em aproximadamente 13 bilhões de barris, ocupando a 14ª posição mundial. Os últimos 12 anos foram de recuperação e fortalecimento da empresa, destaca ainda a FUP, chamando a atenção para o que pode estar em risco: “o Brasil voltou a investir em pesquisa e a construir gasodutos e refinarias; alcançamos a autossuficiência, descobrimos e exploramos o pré-sal, recuperamos para 49% o controle público sobre o capital social da Petrobras”.

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