Este ano minhas férias não foram iguais às de sempre. Minhas férias sumiram! E olha que eu tinha planejado tudo direitinho: o período, o local, a companhia, a bagagem, os programas, até o clima tava de acordo. Tudo complicou na véspera da viagem: tinha deixado as minhas férias próximas das expectativas, junto às malas no hall, mas na hora de partir as férias não estavam à vista.
Revirei a casa, ansioso. Pensei que pudessem estar ocultas em meio às providências de última hora, mas nada. Quem sabe misturadas à bagunça dos compromissos adiados? A agenda deu de ombros, nada sabia.
Ilustração: Sica
Ilustração: Sica
Resolvi sair à procura das minhas férias. Talvez já estivessem na calçada, mais ansiosas que eu pra se mandar. Ou mesmo na garagem, no bagageiro. Nem sinal. Reprimi a vontade de indagar aos vizinhos pelas minhas férias. Poderiam pensar que eu estava maluco, super precisando de férias.
Nas redondezas tinha certeza de que minhas férias não estavam: havia combinado com elas que iria pra lugar sossegado, e ao redor só havia rastros nervosos e vestígios agitados, até de vacaciones de los Hermanos. Bah, cadê minhas férias?!
Antes que a angústia me rendesse férias numa clínica, saí de carro à procura das minhas férias. Se acelerasse, podia alcançá-las na freeway, sabe-se lá em que outro veículo e com quem. O engarrafamento, porém, só serviu pra aumentar a distância entre nós.
Já no litoral catarinense, percorri os lugarejos tranquilos e as prainhas lindas que cogitara como destinos. Não era improvável que minhas férias houvessem confundido os trajetos, eu mesmo também andava confuso, necessitado de férias.
Bom, circulei incansavelmente, espiando pessoas que parecessem estar gozando férias com férias de outro. Sabem como são as férias: elas gostam de gente sadia, corada, risonha, embora sejam mais solicitadas pelos exaustos, branquelas e tensos. Em parte alguma reconheci minhas férias. Puxa, onde andariam minhas férias? Evitei os locais aglomerados, minhas férias têm o meu jeito – preferem livros à praia cheia, caminhadas a dois em vez de esportes, restaurantes escondidos a quiosques barulhentos. Suspiro.
Enfim, por uns quinze dias vaguei por rodovias e estradas, verifiquei hotéis e pousadas, sob sol e chuva, sem localizar minhas férias. Só na volta pra casa, cansado de correr atrás das minhas férias, as encontrei. Estavam sob uma almofada no sofá, aninhadas como um gato autossuficiente.