OPINIÃO

A agenda política que ameaça a economia brasileira

Publicado em 15 de dezembro de 2015

Qual o tamanho e a natureza da crise econômica que afeta o país? Onde reside o problema, exatamente? O Brasil chega ao final de um dos mais conturbados anos da sua história recente mergulhado em preocupações sobre o presente e o futuro da sua economia. A política de ajuste fiscal coordenada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, começa a produzir um dos efeitos colaterais mais indesejáveis, previstos por seus críticos desde o início do ano, o desemprego, que deve chegar ao fim do ano perto da casa dos 9%. Os diagnósticos sobre a real natureza da crise divergem. Em no­vembro, Abílio Diniz, um dos mais importantes empresários do país, rechaçou o diagnóstico da crise: “Em toda a minha vida eu cresci em crises. Não há crise econômica no Brasil. O país tem US$ 370 bilhões de reservas em dinheiro”.

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Caccia Bava: Capital financeiro ainda cobra a conta da crise de 2008

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Nesta mesma direção, há vozes de distintos campos do espectro político, que identificam uma origem política na crise econômica. Apontado como ex-futuro ministro da Fazenda, caso o senador tucano Aécio Neves tivesse ganho a eleição presidencial em 2014, o economista Armínio Fraga admitiu recentemente que a solução para a crise é de natureza política. Segundo ele, o impeachment de Dilma Rousseff seria “uma forma de destravar a crise”. A declaração de Armínio Fraga, agente e porta-voz do sistema financeiro, se inscreve ainda no processo de terceiro turno eleitoral que se instalou no país desde o final do ano passado, com a oposição se recusando a aceitar o resul­tado das urnas e implementando uma agenda política que teve como objetivo máximo, ao longo do ano, a derrubada da presidenta eleita.

“Objetivo da crise é rebaixar o custo do trabalho”
Para o sociólogo Silvio Caccia Bava, diretor do Le Monde Diplomatique Brasil, a crise econômica foi alimentada artificialmente desde o ano passado. “No final de 2014, começamos a vivenciar um clima de terrorismo econômico para forçar uma mudança de rumos na política econômica. Esse clima era ali­mentado por alertas sobre a iminente perda de controle da inflação e o não cumprimento do superávit primário, entre outras teses que passaram a ser repetidas diariamente nos meios de comunicação”, assi­nalou Caccia Bava que participou de um debate no Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, dia 18 de novembro, promovido pelo Fórum21 e pelo Centro de Assessoria Multiprofissional (Camp).

O verdadeiro objetivo desse movimento, defendeu, era um só: o Brasil precisa promover uma reces­são para rebaixar o custo do trabalho. Esse objetivo, destacou ainda o diretor do Le Monde Diplomatique Brasil, faz parte de uma agenda global de recuperação de perdas do capital financeiro após a crise inter­nacional de 2008. É neste período, pós-2008, que devem ser buscadas as origens da crise atual, sustentou CacciaBava:

“É preciso lembrar que cerca de 70% da dívida pública brasileira está nas mãos do sistema financeiro. Não é a toa que o lucro dos bancos tem au­mentando em média 20% ao ano, apesar de a economia estar estagnada. Em 2012, a pre­sidenta Dilma baixou os juros da Selic para a casa dos 7%, o que desagradou o sistema financeiro. Dilma mandou os bancos públi­cos baixarem os juros e, com essa medida, eles expandiram sua atividade no mercado, chegando a ter em torno de 55% do mercado de crédito. O BNDES tornou-se o grande fi­nanciador da indústria naval brasileira”. A ori­gem dessa crise é política. O poder do sistema financeiro foi desafiado por uma política eco­nômica que não estava mais no seu controle”.

O fator Lava-Jato: quebra de empresas e bancos ameaçados
No entanto, mesmo que a crise atual tenha sido alimentada artificialmente, ela acabou se de­senvolvendo e engendrando problemas reais. E os cenários para 2016 são preocupantes. O econo­mista Marcio Pochmann adverte para um proble­ma que pode agravar ainda mais este quadro: o crescente endividamento dos bancos alimentado pela inadimplência de grandes empresas atingidas pela operação Lava-Jato.

No Brasil, assinala Pochmann no artigo “Bancos mais endividados do que países dilace­ram economias”, a ruptura no padrão de finan­ciamento dos setores de infraestrutura, energia e construção civil imposta pela Operação Lava­-Jato respondeu pela metade da queda do PIB em 2015, cujas consequências sobre o emprego e renda da população são inegáveis. Este cenário, diz Pochmann, pode forçar não apenas a que­bra da engenharia nacional, trazendo consigo a desnacionalização do setor e nova crise bancária no Brasil. Para o ano de 2016, adverte, as con­sequências da Lava-Jato poderão ser ainda mais significativas, com a ameaça de quebra de bancos públicos e privados frente a dívidas acumuladas em mais de R$ 1 trilhão e não pagas.

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