Não entendi nada, mas adorei” deve ter dito muita gente depois de ver o filme A grande aposta, sobre os meandros e as matreirices de um sistema financeiro descontrolado. A mesma frase serve para uma composição do Schoenberg ou uma tira do Laerte: entender não é condição para gostar. A prova de que as ondas gravitacionais previstas por Einstein há cem anos existem mesmo encheu de entusiasmo os responsáveis pela prova, o que é natural, mas também quem não tem a menor ideia do significado da descoberta. Estes personalizaram sua admiração e festejaram o desagravo ao Einstein, que, aparentemente, sabia tudo. Nos fez bem a revelação que o simpático velhinho era mais fera do que se supunha.
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O que a descoberta das ondas tem e ver com o nosso pão e manteiga de cada dia? A mãe do Woody Allen se irritava quando ele, ainda garoto, dizia se angustiar com o destino do Universo, e perguntava “O que você tem a ver com o Universo?” antes de lhe dar um tapa. É melhor não ter nada a ver com o Universo. Ele lá e nós aqui. Como estamos no mundo só de passagem, o Universo realmente não nos diz respeito. É como festa na casa do vizinho. Mas dizem que as ondas podem trazer sons inimagináveis do passado, além do choque de buracos negros e estrelas. Sussurros, gemidos, trechos de batalhas e de óperas, Ed Lincoln e seu conjunto… E o próprio big bang, o pum inaugural.