Bill sabia pouco sobre Rosineide. Depois de ser apresentado a ela, tinha ouvido alguém comentar:
– Ela é do balacobaco.
Estranhou. Ela não era carioca?
– Quíssima! –, disse a Rosineide, já no avião a caminho de Cincinnati.
– Mas me disseram que você era de Balacobaco.
Rosineide hesitou antes de responder. Precisava tomar uma decisão. Ou explicava ao Bill o que queria dizer “balacobaco”, com o risco de ele não entender ou, pior, entender, ou partir para a invenção. Optou pela ficção.
– Originalmente de Balacobaco, mas fui criancinha para o Rio.
E, a pedido de Bill, pôs-se a descrever Balacobaco. Nunca mais voltara à sua cidade natal. Sabia que tinha parentes lá, mas perdera o contato com eles. Onde ficava Balacobaco? Na Amazônia. Para ajudar Bill a localizar sua cidadezinha, Rosineide foi mais específica.
– É parte da Grande Cafundó.
E acrescentou:
– Onde o diabo perdeu as botas.
– O que? –, perguntou Bill, perplexo.
– You know. The devil. Lost his boots.
– The devil?! – Esquece, bem –, disse Rosineide, encerrando o assunto com um beijo.
Bill apresentou Rosineide a seus pais, em Cincinnati.
– She’s from Rio, but originally from Balacobaco.
Os pais do Bill acharam interessante, fizeram muitas perguntas sobre a Amazônia (desmatamento, cobras gigantes etc.) e, em geral, acolheram bem a Rosineide. Que está até hoje morando com o Bill em Cincinnati e prometeu que, da próxima vez que os dois vierem ao Brasil, o levará para conhecer Balacobaco. Ainda mais que agora tem aeroporto em Cucuia, que fica perto de Cafundó.
PAPO VOVÔ
Reclamei para a nossa neta Lucinda, de 8 anos, que ela não estava me dando atenção. E ela, mãos na cintura: “Vô, eu tenho minha vida social!”