Um dia o Internacional anunciou a contratação de um grande goleiro. Um goleiro tão bom que muita gente estranhou. Como um jogador extraordinário assim acabara no Inter, e – pelo que se soube – por muito pouco dinheiro?
Mais estranho ainda: o grande goleiro não pedira um grande salário. Aí alguém se lembrou de boatos que corriam sobre o jogador, que ele era um entregador de partidas, um incorrigível subornável. E concluíram que ele não se interessava pelo que ganharia no Inter, se interessava pelo que ganharia de adversários no gol do Inter, deixando passar bolas defensáveis. Se interessava pelo ponto.
Arte: Ricardo Machado
Arte: Ricardo Machado
São tantos os escândalos envolvendo políticos no Brasil, tanto dinheiro rolando e tantos favores sendo vendidos, que se pode pensar em mandatos e cargos públicos não como oportunidades de servir à população, mas como pontos.
Quanto mais influente e destacado na hierarquia do poder, melhor localizado e lucrativo o ponto do político. E corretores de jogo do bicho, vendedores de drogas, mendigos e prostitutas sabem como é importante um bom ponto.
Pode-se até fantasiar que um dia deputados, senadores e governantes dispensarão seus salários e viverão exclusivamente de propinas, ou do que ganham nos seus pontos.
O que, além de acabar com toda retórica vazia sobre razões nobres para se eleger e servir à nação, trará um grande alívio para os cofres públicos.
A Odebrecht e as outras grandes empresas corruptoras se encarregariam de pagar aos políticos, para cada um de acordo com a localização do seu ponto.
Quanto ao tal goleiro do Inter, só para não deixar a história pela metade – o clube chegou a montar um esquema para vigiá-lo dia e noite. Mas as suspeitas a seu respeito não se confirmaram. Pelo contrário, o Inter deve boa parte do seu sucesso na época às suas defesas. Ele era inocente. O que se pode dizer de cada vez menos políticos brasileiros.