Arte: Ricardo Machado
Arte: Ricardo Machado
Como o dos salmões, há muitos outros casos de erros, contrassensos, anomalias, esquecimentos – os mamilos masculinos, por exemplo, ou a persistência das unhas do pé nos humanos, que não existiriam mais se Darwin tivesse razão – atestando a existência de um “designer” inteligente, só um pouco distraído.
Uma referência à “criação de Deus” que não estava na primeira edição de A origem das espécies de Darwin foi acrescentada nas edições seguintes, uma tentativa dos editores de atenuar a reação das igrejas cristãs à teoria revolucionária. Deve continuar nas edições atuais. A reação nunca diminuiu. Nos Estados Unidos, hoje, travam-se batalhas judiciais sobre a proibição de se ensinar o evolucionismo, ou a obrigação de se ensinar o criacionismo como alternativa ao evolucionismo, em redes escolares estaduais. O fortalecimento político da direita religiosa americana devolveu à questão o imediatismo que tinha no século 19, quando a teoria era nova. Conceitos como o do “design” inteligente servem para atualizar pelo menos o vocabulário dos que pregam uma interpretação literal da Bíblia. Como a teoria do “design” não alude especificamente, só implicitamente, a Deus como o criador, ela pode proporcionar um começo de diálogo.
Dizem que Darwin entrou no céu cristão, para a sua grande surpresa, mas durante anos Deus recusou-se a recebê-lo até que ele reconhecesse sua autoria das espécies, o que Darwin rechaçava. Agora já estariam conversando. Os dois teriam feito concessões, abandonando suas reivindicações radicais, e suas conversas começariam sempre com a frase “Admitamos, como hipótese, que…”. A vida sexual dos salmões deve estar sendo muito citada.