Tenho posições firmes sobre o aleitamento materno (a favor) e o câncer (contra), mas e a clonagem humana? E dois volantes de contenção, sim ou não? E Israel e os palestinos?
Ilustração: Ricardo Machado
Ilustração: Ricardo Machado
Não me lembro quem era. Faz tempo. Numa roda discutia-se as preferências de cada um e alguém declarou “Pra mim, é Pio XII e Marta Rocha”. Podia ter dúvidas em outras categorias, menos nas de melhor papa e melhor Miss Brasil. A frase fez sucesso, apesar da incongruência assumida, pois havia uma clara incompatibilidade entre as duas escolhas. Como alguém podia gostar ao mesmo tempo do ascético papa Pio XII e da bela baiana que só não fora Miss Universo porque suas formas eram generosas demais? (Ver “Padrões e Medidas do Brasil Antigo”, capítulo “Formas e Folclore”, verbete “Violão, Mulher tipo”). Mas o importante era o tom definitivo da declaração. É preciso ter algumas definições prontas para o caso de você ser cobrado de surpresa. Melhor papa. Melhor Miss Brasil. Melhor Tarzan. Melhor música do Tom…
Não é fácil estar com as suas preferências sempre em dia. Quem tem uma coluna regular na imprensa e dá palpite sobre tudo muitas vezes só descobre o que pensa sobre um assunto quando o comenta, e não é raro começar com uma opinião e terminar com outra. Tenho posições firmes sobre o aleitamento materno (a favor) e o câncer (contra), mas e a clonagem humana? E dois volantes de contenção, sim ou não? E Israel e os palestinos? Alguém já disse que não existe frase pior, para um profissional do palpite, do que “por outro lado”. Sempre tem o maldito outro lado! Não é uma questão de ser objetivo e imparcial. Com um espaço assinado no jornal você é pago para ser subjetivo. Todos os imparciais são iguais mas cada um é parcial à sua maneira, e se for um preconceituoso é ainda mais divertido. O problema é como ser subjetivo sem ser injusto e saber por quê você é parcial. Ou o que, para você, é pão e é queijo. Ou Pio XII e Marta Rocha.
(Ninguém me perguntou, mas lá vai: João XXIII, Ieda Maria Vargas, Johnny Weismuller e “Inútil paisagem”).