OPINIÃO

Che Guevara e a educação

por Delmar Bertuol (professor) / Publicado em 11 de julho de 2018

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Foto: Reprodução/Web

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Acabo de ler As Três Mortes de Che Guevara, do jornalista gaúcho e ex-militante antiditadura Flávio Tavares. A leitura recomendo inclusive àqueles que querem reduzir o argentino aos seus erros.

Falar de Che Guevara é sempre no mínimo controverso, já que ele é ícone da esquerda. E, sim, cometeu excessos, que são explorados por parte da direita que tenta desconstruir sua imagem.

Mas Che também foi um revolucionário que dedicou sua vida à luta contra as injustiças sociais. Em suma, a vida dele só tinha sentido se lutasse pelo “homem novo”, um homem com plena consciência social e de seu lugar no mundo, o de explorado pelos capitalistas.

Para “Tito”, seu apelido de infância, dado por uma família de classe média alta (Guevara trocou o conforto do dinheiro pelas precariedades das selvas em que lutou), o mundo ideal seria o utópico Socialismo Científico, proposto por Marx e Engels. E, ressalto, o Socialismo Científico pois, evidencia Tavares, Guevara era um ferrenho crítico da URSS e de seu Socialismo Real, com uma elite burocrática que lá se formou, cheia de mordomias incondizentes com a difícil situação dos trabalhadores.

Para conscientizar os seus colegas de guerrilha, Che, nas raras horas de descanso, entre uma refeição não feita e outra insuficiente, lia. Estudava.

Ele defendia que os verdadeiros revolucionários deveriam estudar, ter conhecimento do mundo, do porquê lutavam. Guevara lia e incentivava os outros a fazer o mesmo. Como a maioria era analfabeta, ele dava aulas aos seus colegas. Ou seja, junto com os fuzis, os guerrilheiros deveriam estar armados de conhecimento.

Che defendia uma revolução para a implantação do socialismo ou de pelo menos de algo que a isso se assemelhasse. Ninguém é obrigado a concordar com este sistema de governo. É inegável, porém, que necessitamos, no Brasil, de uma revolução. Não necessariamente uma revolução no sentido empregado por Guevara, mas um novo rumo, com importantes mudanças.

Precisamos de um “homem novo”. Um homem com consciência social, um homem fraterno e solidário com o outro (solidariedade não existe só no socialismo). Mas não uma solidariedade altruísta de época de Natal, em que, a cada presente doado a um carente, faz uma selfie nas redes sociais. Uma sociedade estruturada para que todos tenham acesso à cidadania no seu sentido amplo. Isso ocorre utopicamente e em tese no socialismo e no comunismo científicos, mas também pode existir no capitalismo.

Para que isso aconteça, para que nós, “os homens novos”, tomemos consciência social, precisamos estudar. Informalmente, como fazia Che Guevara para enganar a fome e o frio, mas também e principalmente com a educação formal. Para tanto, a educação deve ser levada realmente a sério pelos governantes, com reais investimentos nas escolas, na cultura, em recursos humanos e outros, e não ser apenas um motivo de selfie a ser publicada nos sites das prefeituras a cada inauguração em que o prefeito esteve presente. Da forma como está, passados os cliques com as autoridades, os alunos seguem passando necessidades várias, como os guerrilheiros de Che Guevara.

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