Rafael Sica
Rafael Sica
Um dos piores, agora, são os xarás indesejáveis, eufemismo pra vergonhosos. Imagine alguém que não é o Jair Bolsonaro se chamar Jair Bolsonaro. Não queira estar na pele dele, na função de chefia duma empresa. Coitado dele e dos funcionários. Pelas costas ou frente a frente, a situação é constrangedora. Ainda mais em reuniões convocadas por ele, em salas lotadas.
E se você for – vá lá – um ótimo síndico? Daqueles que há tempos é reeleito pelos méritos administrativos. Que todo mês faz o condomínio economizar grana, ter saldo positivo. Legal, né? Acontece que ele se chama Paulo Guedes. Sabe lá o que é viver suspeitando de risinhos e cochichos o dia inteiro? Até quando uma criança se dirige ao Seu Guedes é torturante. Às vezes, por vingança, tem vontade de causar prejuízo nas contas do prédio e foder os inquilinos. Mas não faz. Ele não é o Paulo Guedes do Planalto. É só um constrangido a mais.
Terrível também é o caso, por acaso, de um jardineiro batizado Ricardo Salles. Não importa a belezura dos gramados aos seus cuidados, dos canteiros primaveris 365 dias por ano. As podas corretas, que dão sobrevida às árvores. Azar dele: esse Ricardo Salles já morre de vergonha da sua motosserra, da tesoura, até o aparador o constrange. Já pensou em trocar de profissão, mas sabe que a primeira coisa que vão perguntar é: o que o senhor fazia antes, seu Salles?
Outra mortalmente constrangida é a professora Damares Alves, ainda mocinha, e por isso inconfundível com aquela outra que não para de constranger o país. Até 2019, essa Damares Alves era fessora querida, agora padece ao ir pra escola. Dar aulas virou aflição: às vezes porque, por coincidência, sentam próximos uma menina de rosa e um menino de azul. Ou mesmo ambos de azul. Ou quando uma criança traz de lanche uma goiaba. Ou, horror, horror, quando a diretora sugeriu que passe a dar aulas de educação sexual.
Os constrangimentos não cessam. Perguntem aos xarás por toda parte: ao Eduardo Pazuello, agente funerário; ao vigia Augusto Heleno, ao RP Ernesto Araújo, ao estudante de direito André Mendonça, ou a algum árbitro de futebol que atenda por Gilmar Mendes. Sem falar em tantos que trocaram de nome só pra poder andar de cabeça erguida.