OPINIÃO

Prevenindo a violência nas escolas

Por Marcos Rolim / Publicado em 10 de maio de 2019

Foto: Reprodução

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Nos primeiros dias após o massacre na Escola Estadual Professor Raul Brasil no município de Suzano (SP), muitas escolas receberam ameaças de pretensos atiradores. No RS, a Polícia Civil registrou várias dessas ameaças. A apreensão dos pais e das comunidades cresceu muito, como era de se esperar

É preciso discutir o tema tendo presente as evidências produzidas por estudos científicos, o que também ajudará a reduzir o medo. Massacres em escolas são, afinal, eventos raros. Mesmo nos EUA, que acumulam vários casos, o risco é baixo. Em 10 anos, entre 1996 e 2006, 207 estudantes foram mortos em escolas norte-americanas, uma média de 21 homicídios por ano. Há 125 mil escolas de ensino fundamental e médio nos EUA, o que significa que o risco por escola é o de um homicídio a cada seis mil anos. Um ano após o massacre de Columbine (1999), 71% dos pais norte-americanos manifestavam grande preocupação com a segurança de seus filhos nas escolas. No ano do massacre, 17 estudantes foram mortos nas escolas daquele país, o que é horrível e inaceitável, mas, nesse mesmo período, mais de 2,5 mil jovens foram mortos nas ruas e mais de 9,7 mil morreram em acidentes nos EUA.

Inicialmente, seria preciso que o Brasil produzisse um protocolo sobre como eventos dessa natureza devem ser tratados pela mídia. O que vimos após o massacre de Suzano foi um festival de irresponsabilidade dos veículos de comunicação, que ofereceram aos assassinos aquilo que eles almejavam: fama. Ao invés das matérias jornalísticas focarem no sofrimento produzido e no perfil das vítimas, destacaram a trajetória dos autores, seus planos, ideias e modus operandi; uma postura que contrasta, por exemplo, com a posição assumida pela primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, que, discursando no Parlamento após o massacre de Christchurch, quando um atirador disparou contra muçulmanos em duas mesquitas, matando 50 pessoas, disse: “Falem os nomes daqueles que se foram, em vez do nome daquele que os tirou de nós”. Sempre que se promove a identidade dos autores de atentados, aumenta-se o risco da imitação, o chamado efeito copycat, um fenômeno identificado há muito quanto aos casos de suicídios, o que fez com que a mídia passasse a tratar esses eventos com muita discrição e cuidado.

Ao mesmo tempo, precisamos de uma política eficiente para a prevenção à violência nas escolas brasileiras, o que exige um protocolo com procedimentos padronizados construídos com os professores, a sociedade civil e as polícias. Deveríamos começar por abordagens concretas antibullying, um tema que segue sendo menosprezado no Brasil, e focar as atenções no ambiente escolar.  Crianças e adolescentes da escola pública já experimentam uma realidade de alto estresse em suas comunidades. São também jovens com vulnerabilidades diversas. Se somarmos a isso um ambiente tóxico na escola, a violência será um resultado bastante previsível.

A realidade de crise na Educação e as graves dificuldades já vividas pelos professores conformam um cenário que dificulta o próprio debate sobre a violência e as formas de evitá-la, o que é compreensível. Entretanto, a prevenção à violência nas escolas deve ser concebida como algo tão importante quanto o ensino de Matemática ou Português. A experiência internacional indica, inclusive, que cada escola deve montar uma Equipe de Monitoramento de Ameaças com professores, profissionais de Saúde Mental e agentes de segurança que procurarão identificar circunstâncias perigosas e jovens com algum distúrbio ou em sofrimento intenso. Esses não devem ser estigmatizados como “problemáticos” ou “ameaçadores”, mas receber a ajuda de profissionais habilitados. Como sempre, é a atenção às pessoas que costuma fazer toda a diferença.

Jovens que praticam atos de violência extrema não possuem um único perfil, mas há elementos comuns nas tragédias. Massacres em escolas, por exemplo, costumam ser preparados por quatro circunstâncias básicas: Frustração + Ideação Suicida + Revolta + Arma de Fogo. Um ambiente escolar seguro, por isso mesmo, não é definido pelo tamanho dos muros, pela quantidade de grades, pela presença de catracas, câmeras ou agentes de segurança. Uma escola é segura quando os estudantes conversam entre si e com os professores sem qualquer constrangimento; quando há relações respeitosas entre todos; quando a escola interage com a comunidade; quando o estabelecimento possui um plano de prevenção conhecido por todos e com responsabilidades definidas; quando os professores e funcionários recebem o devido apoio para sua capacitação em estratégias de prevenção e quando há uma rede de atenção básica, com profissionais de Saúde e do Serviço Social oferecendo apoio constante.

Marcos Rolim é doutor em Sociologia e jornalista. Escreve mensalmente para o jornal Extra Classe.

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