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Aquele primo querido virou nazista

Por Moisés Mendes / Publicado em 29 de janeiro de 2025

Foto: Reprodução Youtube

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Aquele seu primo preferido, que foi se transformando em várias outras pessoas com a passagem do tempo, que quase foi esquerdista na adolescência, que foi coxinha no tempo de Aécio Neves e que nos últimos anos virou bolsonarista, pois aquele primo pode aparecer com uma terrível novidade.

Ele pode, a qualquer momento, começar a defender Elon Musk. E dizer que o gesto de Elon Musk com o braço estendido tem que ser entendido em seu contexto, até porque muita gente boa já fez aquilo.

Aquele primo querido pode, fazendo alguns volteios, dizer que sim, que concorda com as ideias de Musk. Que Musk defende o nacionalismo, a prosperidade, a moralidade e a vida fora da Terra e que tudo que ele faz e diz pode até ser confundido com nazismo.

O primo querido pode, andando na direção de Elon Musk, a qualquer momento dizer que o nazismo não foi bem o que os outros pensam e que é preciso ver as coisas boas de todas as ideias e ideologias.

Sim, aquele seu primo pode, na maturidade, virar um nazista.

Quem já tem uma irmã terraplanista. Tem um sobrinho terrivelmente bolsonarista, sob todos os aspectos, que duvida até hoje da lisura da eleição de Lula.

Quem já tem um vizinho que prega contra as vacinas, por duvidar da sua eficácia e por acreditar em danos irreversíveis dos imunizantes, aquele vizinho solidário, que está pronto a ajudar quem está por perto.

Quem tem aquele colega de trabalho que participou de acampamentos na frente de quartéis por medo do comunismo. E tem até um cunhado que ergueu o celular para o céu à espera de contato com marcianos que apoiariam o golpe.

Quem já tem parente ou conhecido extremista, achando que eles chegaram aos seus limites, pode ter a novidade do ano. E a novidade pode ser o primo nazista.

O primo amigão, filho da tia preferida, irá superar tudo o que se conhece como fascismo declarado ou dissimulado. Vai superar inclusive aquele tipo estranho que vê sentido nas rodas que se formavam em torno de um pneu para cantar o hino.

O primo irá superar todos eles. Porque o gesto Musk o empurra para outro patamar. O primo nazista mostrará que, para a extrema direita bolsonarista, nada tem limite.

O primo nazista poderá estar afinado com as 125 bandas nazistas existentes no Brasil. São as bandas de rock nazi black metal. Quatro delas estão no Rio Grande do Sul, segundo levantamento da ONG Stop Hate Brasil.

São bandas que cantam músicas atacando negros, gays, indígenas, mulheres e, claro, judeus. Aquele seu primo querido pode estar ouvindo uma dessas bandas.

Ele poderá, nos almoços de domingo da família, explicar as conexões do trumpismo com o nazismo. É o que pode acontecer daqui a pouco.

A próxima etapa do cenário de ódio, mentira, difamação e preconceito pode ser esse: o desembarque do nazismo na minha, na sua, nas nossas famílias.

Aquele seu primo querido, afetivo, aquele primo pode ser o primeiro ativista nazista da família. Não só um seguidor do nazismo, mas um pregador das ideias ressuscitadas por Elon Musk.

Ele pode aparecer nas redes sociais em vídeos como o feito por um grupo de amigos de Catanduva (SP), que imitou Musk com o gesto nazista e depois mandou explicar que era uma brincadeira.

O seu primo amado, que se lembra do aniversário de todo mundo, que cuida dos idosos da família, que liga para saber como todos estão, esse primo pode ser um problema de todos a partir de agora, mesmo que a sensação seja a de que nada mais possa ser feito.

Moisés Mendes é jornalista e escreve quinzenalmente para o Extra Classe.

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