Foto: Renê Cabrales Foto: Renê Cabrales
Cumprir as projeções de crescimento econômico e produzir ações de impacto social para sensibilizar a parcela assalariada do eleitorado, que é quem decide uma eleição, além de abafar eventuais escândalos políticos que possam desgastar a imagem do governo são os outros desafios de Lula até outubro de 2006. A avaliação é do doutor em Sociologia e Ciências Políticas pela Universidade de São Paulo, Flávio Silveira, diretor da Meta Instituto de Pesquisas. “O desgaste do PT poderá ser abafado por uma série de compensações. Se a economia estiver bem é muito provável que esse desgaste não adquira uma importância muito grande”, analisa. Segundo ele, os setores médios da sociedade, parcela do eleitorado com maior nível de escolaridade que inclui o funcionalismo público, tendem a retirar o apoio ao governo à medida que não estão ocorrendo mudanças de grande impacto. “O governo tem uma série de ações em andamento, mas nada de grande impacto até agora. As reformas foram incompletas e geraram descontentamento. Essa base de apoio cresceu porque votava por uma concepção de mudança social. Uma vez que o governo não está sendo ‘mudancista’, criou uma frustração, decepcionou alguns segmentos. Os funcionários públicos se mostram muito incomodados”, acrescenta. Quem acaba decidindo uma eleição, observa Silveira, é a parcela do eleitorado com pouca escolaridade, movida por questões mais imediatas como a salarial e os programas assistenciais.
As expectativas geradas nesses primeiros anos de governo estão conferindo ao PT um status de “partido de grotões”, forte no interior e fraco nas capitais, diz Flávio. “Se a eleição fosse agora, o desgaste provocado no PT pelo exercício do poder seria pequeno, mas ele tende a crescer no decorrer da campanha a exemplo do que ocorreu com o PMDB logo depois do fim do regime militar. O partido era fortíssimo, mas sofreu uma ‘arenização’”. Por conta desse movimento para a direita, em direção à Arena, o PMDB acumulou um desgaste “que se mantém até hoje e se reflete no número de deputados e senadores que o partido perdeu ao longo das últimas décadas”. Além de uma provável aliança do PT com o PMDB na indicação do candidato a vice de Lula, Flávio projeta uma coligação entre PSDB e PFL. A decisão sobre coligação com Lula ou candidatura própria deve ser definida na convenção do PMDB, em junho de 2006. “O problema do PMDB é que o partido tem diversas realidades regionais e não tem um nome nacional. A exemplo do vice de Lula, José Alencar, como se trata de um vice, poderia ser alguém de peso político equivalente”, pondera. “Pode ser a hora de termos um gaúcho na disputa presidencial e Rigotto é o mais indicado para assumir esse papel”, propôs o presidente estadual do PMDB, o senador Pedro Simon, ao lançar o nome do governador do RS durante encontros com filiados pelo interior do Estado. O próprio governador defende a sua candidatura para o PMDB nas prévias da escolha do representante do partido na disputa de 2006.
Farinhas diferentes, mas no mesmo saco
Para a deputada federal do Psol, Luciana Genro, a polarização entre petistas e tucanos nas eleições é falsa. “O PT e o PSDB são farinhas de origens diferentes que foram parar no mesmo saco. São irmãos siameses”, ironiza Luciana, expulsa do PT junto com outros parlamentares por votar contra as reformas. “Com a candidatura da senadora Heloísa Helena, o Psol quer mostrar que existe um outro caminho para o Brasil que não esse escolhido pelo Lula, o mais fácil, mais cômodo, que prefere se aliar ao capital financeiro a enfrentá-lo. Para Luciana Genro, é necessário mudar os parâmetros de estabilidade econômica do país. “O governo Lula se transformou numa derrota para a classe trabalhadora ao se tornar instrumento para os interesses neoliberais. Vale a pena ganhar a eleição se for para sucumbir?”
Sobe a tensão pré-campanha
Rigotto não descarta a possibilidade de concorrer ao cargo e vê com naturalidade a especulação de seu nome no Estado e em algumas regiões do país.
Outro aspecto que fez subir a tensão pré-campanha é a batalha pela presidência nacional do PT. “Sabemos que governar é difícil, mas o governo está descompen-sado. Essa política só trouxe derrotas ao partido. Não conseguimos avançar na reforma política nem aprovar a tributária. A reforma da Previdência ficou incompleta”, dispara Raul Pont, da Democracia Socialista, que se lançou candidato ao diretório nacional no final de abril. Para o deputado e ex-prefeito de Porto Alegre, o PT tem que ser propositivo e manter autonomia em relação ao governo. “O diretório nacional virou um órgão homologatório”, critica. Pont vai rivalizar com a deputada federal Maria do Rosário, do Movimento PT e com Valter Pomar, da Articulação de Esquerda. “Nesse processo de escolha da direção nacional do PT, estabelecemos um pacto de unidade pela reeleição”, compara a deputada.
Foto: Tânia Meinerz
Foto: Tânia Meinerz
Para Maria do Rosário, as alianças são necessárias para governar, mas o partido “não consegue dar conta da vontade das classes dominantes de tomar o poder”. Para Rosário, a participação do PMDB no governo não poderia estar condicionada às alianças nos Estados, mas vinculada a um projeto nacional. “O leque de alianças deve ser pautado segundo critérios. É certo que temos que dialogar com o PMDB. Já o PP e o PFL são partidos que estiveram do outro lado, estão identificados com o que há de mais retrógrado”, compara. A parlamentar afirma também que uma experiência como essa, de governar o país, exigiria solidariedade e compreensão pela complexidade das relações políticas e econômicas existentes.