POLÍTICA

Prefeitura esvazia programa de atenção a idosos na capital

Transferência de professores de educação física para a rede de ensino compromete atividades de esporte, saúde e lazer para a terceira idade e jovens em ginásios e parques públicos da capital
Por Gilson Camargo / Publicado em 28 de setembro de 2018
Encontro anual do programa De bem com a vida, de atenção à terceira idade, no parque Ararigboia, foi marcado por protestos contra a transferência de professores

Encontro anual do programa De bem com a vida, de atenção à terceira idade, no parque Ararigboia, foi marcado por protestos contra a transferência de professores

Foto: Igor Sperotto

A 24ª edição do Encontro sobre o Envelhecimento, realizada nesta sexta-feira, 28, no Parque Ararigboia, no bairro Petrópolis, em Porto Alegre, alternou a confraternização e oficinas sobre desafios e possibilidades de bem-estar e saúde na terceira idade com a preocupação e a indignação dos idosos diante da possibilidade de encerramento das atividades por falta de professores e estagiários.

Os 34 professores e especialistas e 20 estagiários em educação física que atendem aos grupos de ginástica, alongamento, esporte adaptado, dança, grupos de convivência e caminhadas no projeto de valorização do envelhecimento saudável foram convocados pela Secretaria Municipal de Educação (Smed) com a justificativa de que faltam professores na rede pública de ensino. Do total, 18 professores já foram afastados dessas políticas.

A realocação dos professores atinge as atividades no Ginásio Tesourinha, Cegeb, Ramiro Souto, Darcy Azambuja, Lupi Martins, Ceprima, Alim Pedro, Tamandaré, Futebol, além do apoio pedagógico e programas de saúde e bem-estar. A medida esvazia uma das mais antigas e abrangentes políticas públicas de acolhimento a idosos da capital gaúcha, o programa De bem com a vida, que beneficia diretamente mais de 1 mil pessoas, além de comprometer outros programas que abrangem atividades esportivas e de lazer nos parques públicos para inclusão de jovens e crianças. Só o parque Ararigboia tem mais de 1,5 mil inscritos, que pagam R$ 30 por semestre para acessar as atividades de esporte e lazer e usufruir a estrutura dos parques e ginásios – a maioria sucateados. “Pego duas conduções da Zona Sul até aqui para fazer ioga, uma atividade que me salvou de uma crise de depressão por problemas de saúde e me faz sentir bem, com toda a atenção e o acolhimento dos professores. Sem eles, a gente perde muito, porque nem todo mundo pode pagar uma academia particular para ter qualidade de vida”, lamenta Ione Marques, 80 anos.

Em 2015, Porto Alegre foi incluída pela ONU na Rede de Cidades Amigas do Idoso graças a essas políticas. “Criado em 1995, o evento tem o objetivo de debater aspectos ligados à qualidade de vida e ao envelhecimento, além de proporcionar momentos de integração e espaços de lazer abertos à comunidade”, explica o coordenador do projeto, professor Luís Felipe Silveira. Ele lamentou o esvaziamento do projeto e lembrou que os idosos representam mais de 15% da população da capital.

Medida da prefeitura suspende serviços de esportes e lazer para mais de 1,5 mil pessoas

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Foto: Igor Sperotto

DENÚNCIA – Um ofício assinado por 22 vereadores de vários partidos, incluindo a bancada do governo, registrou a contrariedade dos parlamentares com a retirada de professores e professoras que atuam nas atividades de Educação Física, Esporte, Lazer e Recreação da Secretaria de Desenvolvimento e Esporte. O documento foi protocolado na segunda-feira, 24, pela líder da oposição, vereadora Sofia Cavedon (PT), que coordena a frente parlamentar articulada na Câmara de Vereadores para tratar do assunto. “É o final sacramentado da secretaria de Esportes e de vários trabalhos, principalmente com a população idosa que faz ginástica, caminhada, aula de ioga, entre outras atividades”, lamentou.

No ano passado, a Secretaria de Esportes e Lazer foi extinta e incorporou outras áreas, como assistência social, habitação, acessibilidade e trabalho, transformando-se em Secretaria de Desenvolvimento Social e Esportes. As mudanças impostas pelo Executivo desde o começo de 2017 criaram um impasse na educação da rede pública municipal de Porto Alegre, com redução de carga horária, entre outras medidas questionadas pelos professores e pelo funcionalismo. “O prefeito garantiu que a SME continuaria, que não haveria diminuição da secretaria, assim como manteria o esporte, o lazer e a recreação”, cobra a parlamentar. “É um equívoco desmontar uma política pública fundamental. Temos que suspender a retirada desses professores e professoras”, alertou. A justificativa do Executivo para a transferência é a falta de professores no ensino fundamental. “Os professores que faltam na rede municipal não são de educação física”, argumenta. Além de uma audiência solicitada ao gabinete do vice-prefeito, Gustavo Paim, para tratar do afastamento dos professores, a frente parlamentar vai recorrer ao Ministério Público de Direitos Humanos para denunciar o caso.

Em nota, a Smed confirma que encaminhou ofício no dia 24 à Câmara de Vereadores e a outras secretarias, convocando os professores cedidos para que retornem às escolas da rede municipal de ensino e explica que a iniciativa faz parte do protocolo de realocação de professores que a pasta tem seguido para suprir as demandas de sala de aula. “Tínhamos uma necessidade inicial de 4 mil horas semanais, e depois de todas as ações já adotadas para suprir esta falta, somadas às novas aposentadorias, exonerações e reduções voluntárias de regimes, há ainda hoje uma falta residual de docentes em torno de 1,2 mil horas semanais. Nosso objetivo é, sempre, garantir o atendimento a todos os alunos de 800 horas e 200 dias letivos, de acordo com o que prevê a LDB”, argumenta o secretário Adriano Naves de Brito.

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