POLÍTICA

Bolsonaro é eleito presidente do Brasil

Em pronunciamento pelo Facebook, de sua casa, afirmou que honrará os seus compromissos e fez corrente de oração, conduzida pelo senador Magno Malta.
Por Marcelo Menna Barreto e Valéria Ochôa / Publicado em 28 de outubro de 2018

Foto: Reprodução/TV Globo

Em seu primeiro discurso de presidente eleito, Jair Bolsonaro afirmou que seu governo será um defensor da Constituição, da democracia e da liberdade.

Foto: Reprodução/TV Globo

Às 19h18 deste domingo, 28 de outubro, com 94,44% das urnas apuradas, o militar reformado Jair Messias Bolsonaro (PSL) alcançou 55,54% dos votos válidos, vencendo matematicamente o segundo turno das eleições para a presidência da República do Brasil. Com exceção do Nordeste, Bolsonaro venceu em todas as demais regiões.

Após uma manifestação pelo Facebook, de sua casa na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, em que prometeu cumprir com seus compromissos, o capitão reformado falou à imprensa, fez uma corrente de oração, conduzida pelo senado Magno Malta, a quem atribuiu o canal de comunicação com as religiões, e leu o seu pronunciamento.  Garantiu que fará um governo ‘decente’, com o propósito de fazer uma “grande, próspera e livre nação”. E destacou: “precisamos mais de Brasil e menos Brasília”.

Milhares de eleitores começaram a se reunir em frente ao condomínio onde fica a casa de Bolsonaro ainda na metade da tarde. O resultado das eleições, que deu a  ele mais de 57 milhões de votos, foi comemorado em diversas capitais do país.

Na avenida Paulista, em São Paulo, também milhares de eleitores se reuniram no final da tarde e quando foi divulgado nos alto-falantes a vitória do candidato do PSL,  os primeiros gritos não foram nem Bolsonaro, nem “mito”, como é tratado por seus eleitores, mas “Fora PT”. Na ocasião, um início de tumulto registrado pela TV mostrou policiais isolando uma área e atirando balas de borracha e bombas de gás. Aos gritos, ao fundo, se ouvia “Ali tem petista, mete bala”.

Foto: Reprodução/TV GLobo

O cantor gospel e senador Magno Malta (não se reelegeu nestas eleições) conduziu corrente de oração na casa de Bolsonaro após o resultado do pleito.

Foto: Reprodução/TV GLobo


Um segundo turno turbulento e de censura

Com um discurso de ódio, que atraiu apoios de organizações como a americana Ku Klux Klan (KKK), de ultra direita, Bolsonaro saiu com franco favoritismo do primeiro turno, depois de ganhar com 44% dos votos válidos, ante 28% de Fernando Haddad, surpreendendo a todos institutos de pesquisa. Mas, diante da mobilização e da forte campanha na defesa da democracia e dos direitos humanos, que envolveu a sociedade organizada, centrais sindicais, entidades e movimentos sociais e intelectuais, o Bolsonaro  chegou a moderar os seus discursos de “mão na faixa” – marcados por expressões e manifestações de perseguição, como a de que faria uma ‘limpeza’ nunca vista na história do Brasil: “Essa pátria é nossa. Não é dessa gangue que tem bandeira vermelha e a cabeça lavada”.

Matéria da Folha de São Paulo que denunciou uma operação ilegal financiada por empresários ligados à campanha do PSL para difamar no WhatsApp o PT e seu candidato foi um dos fatos predominantes para o freio da campanha de Bolsonaro e as esperanças de Fernando Haddad. Um dia após, a empresa responsável pela rede social anunciou providências como notificação de agências de consultoria digital e banimento da plataforma. O mesmo aconteceu com o Facebook. Ações do PT e do PDT foram interpostas na Justiça eleitoral e o assunto foi a pauta dominante na campanha polarizada.

Grande preocupação passou a tomar conta dos setores democráticos e intelectuais do país, em especial após a série de crimes de ódio que aconteceram pós primeiro turno.
Atores famosos como Leandra Leal, Paulo Betti e outros sairam para pedir voto a Fernando Haddad nas ruas de São Paulo e do Rio. A dois dias das eleições, grupos usaram hashtag a favor do petista e até quem nunca votou no PT declarou nas redes socais seu apoio à Haddad, vendo autoritarismo em seu antagonista. Um dos maiores youtubers do Brasil, com um canal 26 milhões de seguidores, Felipe Neto disse que mesmo tendo ódio do PT, estava votando em Haddad por repudiar o “autoritarismo” de Bolsonaro. O ex-Procurador Geral da República Rodrigo Janot foi outro que abriu seu voto no petista: ” Agora, não posso deixar passar barato discurso de intolerância e etc. Por exclusão, voto em Haddad”, tuitou. Às vésperas da eleição, a cantora Gretchen também se pronunciou e declarou seu voto citando a ascendência indígena e “Pela vida do meu filho Thammy”. Outro grande crítico do PT, o multimídia Marcelo Tass disse em suas redes que ” O PT é arrogante, não foi capaz de se reinventar. Minha escolha é apenas racional. Cuidar da Amazônia, liberdades individuais e da Educação são os motivos principais do meu voto em Haddad”.

O ex-presidente do STF, Joaquim Barbosa, o principal algoz de lideranças petistas no julgamento do caso conhecido como Mensalão sentenciou que Haddad era em sua opinião a melhor opção para o Brasil porque nos últimos 32 anos de eleições era a primeira vez que sentia medo e desautorizou a propaganda de Bolsonaro que dizia que ele afirmara que o capitão era o único não envolvido na questão que julgou. Como resposta ao seu twitter, um intolerante mostrou sua face racista: “Você não deveria ter largado a vassoura e o pano de chão”, disse o perfil @EDUCOSTABH.

Justiça tardia

Se faltaram ações da Justiça Eleitoral via seus Tribunais Regionais para coibir ações eleitorais em templos evangélicos como os da Igreja Mundial do Reino de Deus onde a campanha era aberta para o candidato da extrema direita nos púlpitos, uma série de atos foram tomados pelo judiciário para coibir o direito de expressão em pelo menos 30  universidades do país, onde até mesmo alusões à Marielle Vive foram censuradas. Em Curitiba, no dia 27, a própria produção de Roger Watters, ex-pink Floyd que causou furor por exibir o nome de Bolsonaro entre os neofascistas do mundo, foi duramente advertida. Revertendo o quadro nas universidades, mesmo que tardiamente, a ministra do STF, Carmem Lúcia despachou a nulidade das ações dos TREs em todo o Brasil.

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