Bolsonaro é criticado por judeus e árabes
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Apesar de ter feito um recuo estratégico em anunciar um escritório de comércio, tecnologia e inovação, ao contrário da intenção inicial de transferir a embaixada do Brasil de Telaviv para Jerusalém, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) não saiu imune a uma série de questionamentos em sua presença em uma das regiões mais conflagradas do mundo. Questionado tanto por palestinos quanto por membros da própria comunidade judaica, Bolsonaro coloca-se, como na visita aos Estados Unidos, em uma posição ambígua, mas revelada por tuíte de seu filho, Eduardo, que anunciou o escritório como o primeiro passo “para a mudança definitiva da embaixada”.
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Para a oposição a Benjamin Netanyahu, a visita do presidente brasileiro nada mais é do que propaganda eleitoral para o primeiro-ministro israelense que, envolvido em escândalos de corrupção, antecipou as eleições gerais do país de novembro para o próximo dia 9 de abril.
Paralelo a isso, palestinos que viram o convite de visita aos seus territórios recusado pela comitiva brasileira, condenaram a visita ao Muro das Lamentações de Jair Bolsonaro acompanhado do premiê israelense e pedem represália das comunidades árabes. O brasileiro se tornou o primeiro chefe de Estado a visitar o Muro das Lamentações com um primeiro-ministro israelense nesta segunda-feira, 1º de abril.
Para membros do Arab Knesset (Assembleia dos Árabes Israelenses), a visita ao Muro Ocidental com Netanyahu foi mais longe do que a recusa ao convite para visitar os territórios palestinos. “É provocativo para todos os palestinos”, disse Ahmad Tibi, membro organização, que vê na visita uma semana antes das eleições “uma interferência direta”.
O muro é o local mais próximo onde os judeus podem rezar do chamado Haram Al Sharif (Monte do Templo), um dos locais mais disputados do mundo, sagrado para judeus, cristãos e muçulmanos. Tanto para os membros do Arab Knesset quanto para os palestinos, a visita de Bolsonaro é um aceno tácito à soberania israelense na Cidade Velha de Jerusalém.
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GREENPEACE – Ativistas do Greenpeace fizeram ainda nessa segunda-feira um rapel nas muralhas da Cidade Velha em protesto contra Bolsonaro. Membros da entidade de defesa do meio ambiente penduraram um banner em frente ao hotel onde estava hospedado o presidente brasileiro, pedindo que ele “pare a destruição da floresta amazônica”.
“Vamos lembrar ao presidente a importância da Amazônia em todos os momentos, sem descanso”, disse Marcio Astrini, coordenador de políticas públicas do Greenpeace Brasil em um comunicado. “Uma área correspondente ao tamanho de dois campos de futebol da floresta amazônica brasileira é desmatada a cada minuto. Isso é inaceitável e deve ter um fim”, alertou.
Judeus e palestinos no Brasil
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Um selo do Correios do Brasil lançado para coincidir com a visita de Bolsonaro a Israel foi motivo de críticas do rabino Guershon Kwasniewski, da Sociedade Israelita Brasileira de Cultura e Beneficiência (Sibra). Com a imagem de Netanyahu, seguido da palavra Moshia, que significa “salvador” ou “redentor” em português, o selo provocou indignação. “Que eu saiba, Bibi não é nenhum salvador ou redentor. Muito pelo contrário, as suas atitudes de convidar partidos de extrema-direita para se unirem ao Likuk só criaram e ampliaram as divisões internas em Israel”, criticou Kwasniewski. Para o líder religioso judeu, o selo foi um ato de “extremo mau gosto”.
Já Soraya Misleh, do Comitê de Solidariedade ao Povo Palestino no Brasil, comemora o fato de no dia 30, quando tradicionalmente os palestinos, lembram o seu direito à terra, manifestantes em Gaza terem levantado cartazes denunciando “Armas de Israel matam na Palestina e nas favelas cariocas!”. “Emocionante! Nossa solidariedade é maior que a aliança de Bolsonaro com Israel!”, diz Soraya.
Hamas repudia visita e pede retratação
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Em nota divulgada nesta segunda-feira em seu site, o movimento islamita Hamas criticou a visita do presidente Jair Bolsonaro a Israel, que considerou uma “violação às leis e normas internacionais”. Maior organização islâmica nos territórios palestinos, o Hamas repudiou a visita de Bolsonaro ao Muro das Lamentações e a decisão de criar um escritório comercial do Brasil em Jerusalém. “O movimento Hamas condena veementemente a visita do presidente brasileiro Jair Bolsonaro à ocupação israelense como um movimento que não apenas contradiz a atitude histórica do povo brasileiro, que apoia a luta pela liberdade do povo palestino contra a ocupação, mas também viola as leis e normas internacionais”, afirma o grupo em trecho da nota. O comunicado afirma que Bolsonaro e o Brasil precisam se retratar pela visita. “O Hamas conclama o Brasil a reverter imediatamente essa política que é contra o direito internacional e as posições de apoio do povo brasileiro e dos povos da América Latina”, adverte.