POLÍTICA

Um terço da população urbana argentina vive na pobreza

País tem mais de 30% da população abaixo da linha da pobreza, quase 7% na faixa de indigência, e fome, desemprego, informalidade e dólar em alta
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 26 de abril de 2019
Manifestantes contra o tarifaço aplicado pelo governo de Mauricio Macri

Foto: Reprodução

Manifestantes contra o tarifaço aplicado pelo governo de Mauricio Macri

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Na Argentina de Maurício Macri, o índice de informalidade no trabalho cresceu cerca de 6% desde a posse do presidente, em 10 de dezembro de 2015, aproximando-se de 40%, e o desemprego está em 9,1%. Em abril, o próprio Instituto Nacional de Estadística y Censos de la República Argentina (Indec), órgão governamental que corresponde ao Ibge do Brasil, apontou que os números oficiais da pobreza no país cresceram em um ano coincidentemente os mesmos seis pontos percentuais da informalidade. Esses novos dados, somados ao fato de que 32% da população argentina está abaixo da linha da pobreza e 6,7% na faixa da indigência, praticamente estão levando para a sepultura os planos de reeleição do presidente, que viu Cristina Kirchner surgir com a vantagem de nove pontos em um possível segundo turno nas eleições que ocorrem em outubro próximo.

O liberal Macri atribui a disparada do dólar ao crescimento da ex-presidente nas pesquisas

Foto: Divulgação

O liberal Macri atribui a disparada do dólar ao crescimento da ex-presidente nas pesquisas

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De olho nas eleições, o liberal Macri atribui seu último revés – a disparada do dólar na última quinta-feira, 25, que bateu o recorde histórico do país após uma semana do decreto de um pacote que inclui um plano de controle de preços – ao crescimento da ex-presidente nas pesquisas. Para Macri, “muitos creem que o passado foi melhor, mas a grande maioria não quer voltar atrás”, classificando como um “ruído” a moeda americana chegar ao valor de ARS$ 45,90.

O certo é que mesmo após o otimismo dos mercados com a eleição de Macri, a economia argentina manteve seu crescimento de forma lenta, com a inflação alta agravada pelo fato de os salários não subirem por causa das políticas de austeridade adotadas por sua equipe econômica que acabaram não conseguindo nem acertar o orçamento ou baixar os índices de desemprego. O resultado foi que em dezembro de 2018 a Argentina novamente passou a ser considerada um país em recessão técnica, com seu PIB encolhendo 3,5% no terceiro trimestre do ano passado e, conforme os últimos dados do Indec, fazendo com que mais 2,7 milhões de argentinos ingressassem  nas filas da pobreza.

A classe média argentina que votou em Macri agora frequenta os bandeijões

Foto: Reprodução

A classe média argentina que votou em Macri agora frequenta os bandeijões

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FOME – A situação em que chega a Argentina hoje só agrava ainda mais o que foi verificado no ano passado pelo Barômetro de Dívida Social elaborado pela Universidade Católica Argentina (UCA), o fato de muitos argentinos voltarem a ter apenas uma refeição por dia.

Segundo o estudo da universidade, em 2018 um contingente de 3,4 milhões de argentinos se encontrava em situação de insegurança alimentar grave, o que tecnicamente significa uma redução involuntária da porção de alimentos ou a percepção da experiência de fome devido a problemas econômicos.

O drama que está sendo vivenciado na Argentina não escapou aos olhos da ONU que, em um documento elaborado conjuntamente pela divisão regional de quatro de suas agências, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e o Programa Mundial de Alimentos (PMA), indicou que os níveis de subnutrição aumentaram mais no país, ao lado de Venezuela e Bolívia.

A diferença entre a realidade dos países contrasta, no entanto, porque somente a Argentina tem a capacidade de produzir alimentos para 400 milhões de pessoas e, se entre os anos de 2013 a 2015, a subnutrição na Argentina havia caído para 3,4% do total (1,5 milhões de pessoas), o triênio 2015-2017, sob o governo Macri, vitimou 3,8 milhões de pessoas, segundo dados da FAO.

A consequência é facilmente verificada em Buenos Aires, onde a frequência nos chamados bandejões comunitários da capital cresceu entre 40% e 50% no último ano. Até as famílias de classe média passaram a frequentar esses locais, sinalizando claramente outro dado alarmante: a pobreza na Argentina já atinge um terço de sua população urbana.

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