Diálogos entre juiz e promotores são “triviais”, diz Moro
Foto: Pablo Valadares/ Agência Câmara
Três comissões da Câmara dos Deputados (de Constituição e Justiça e de Cidadania; de Trabalho, Administração e Serviço Público; de Direitos Humanos e Minorias) realizam audiência pública com o ministro da Justiça, Sérgio Moro, nesta terça-feira, 2. Moro é questionado sobre o conteúdo revelado pelo site de notícias The Intercept Brasil, que vem publicando mensagens trocadas por Moro no âmbito da operação Lava Jato, com o coordenador da força-tarefa em Curitiba, o procurador Deltan Dallagnol, e com outros procuradores membros da força-tarefa.
Em sua manifestação inicial, de 20 minutos, Moro voltou a questionar a legitimidade das mensagens divulgadas pelo Intercept e replicados pela Folha de S. Paulo e revista Veja, mas reafirmou que conversas entre juiz, advogados e procuradores, seriam uma prática “trivial” no judiciário brasileiro. Ele defendeu o trabalho da Lava Jato, disse que nunca agiu de forma ilegal e reiterou que não reconhece a autenticidade das mensagens divulgadas pelo site The Intercept Brasil. O ministro alega que a “invasão” de celulares de autoridades para obter mensagens faz parte de uma “tentativa criminosa de invalidar condenações” da Operação Lava Jato. “Alguém com muitos recursos está atrás dessas invasões. O objetivo é atacar a operação Lava Jato e invalidar condenações”, acusou. “O que existe é uma invasão criminosa de hackers”, repetiu. A linha de defesa do ministro consiste em afirmar que não está demonstrada autenticidade das mensagens, que ele não reconhece, afirma que “pode ter algumas mensagens que eu possa ter mandado”, e argumenta que “sempre agi com base na lei” e que “minha preocupação é que o objetivo principal seja evitar o prosseguimento das investigações”.
Foto: TV Câmara/ Reprodução
Mais de 130 deputados se inscreveram para questionar Moro. Ao invés de perguntas, ele ouviu elogios dos deputados governistas, que exaltaram o “heroísmo” e a “figura mítica” do ex-juiz. Parlamentares de oposição bateram na tese de que o atual ministro fez conluio com o ministério Público e condenou Lula politicamente.
Rogério Corrêa (PT-MG) leu trechos da reportagem do The Intercept Brasil sobre a orientação dada por Moro ao procurador Dallagnol, a quem o deputado adjetivou como “cretino”. Houve tumulto na audiência e protestos de parlamentares governistas. O presidente da CCJ, Felipe Francischini (PSL) ameaçou encerrar a sessão. Para apaziguar os ânimos, Corrêa disse que retirava o termo “cretino”. Ele foi um dos parlamentares que afirmaram que iriam protocolar pedido de abertura de CPI da Lava Jato.
Na abertura da audiência, Francischini tentou minimizar a gravidade da convocação ao dizer que o ministro estava na Câmara a convite. A presidente da Comissão de Trabalho, Professora Marcivânia (PCdoB) corrigiu: “O requerimento era de convocação, mas um acordo entre a oposição e o Governo o alterou para convite”. “Em que país democrático um jornalista é obrigado a entregar sua fonte?”, indagou. Segundo a parlamentar, se comprovada a autenticidade das mensagens de Moro, o ministro teria violado 18 dos 37 artigos do Código de Conduta dos Magistrados.
Em seu pronunciamento, Helder Salomão (PT) presidente da Comissão de Direitos Humanos, lembrou o vazamento de um áudio entre Lula e Dilma, que acabou resultando no impedimento do petista de se tornar ministro da Casa Civil da então presidente da República, em abril de 2016.
O deputado Coronel Armando (PSL-SC) exaltou a “figura mítica” de Moro na Lava Jato e ao contextualizar o que ele chama de “ditaduras” resultantes da “democracia que o PT defende” disse que os cubanos fogem de carro para Miami para escapar da ditadura, ignorando que o acesso ou a fuga desta ilha do Caribe só são possíveis de barco ou avião.
O líder do PSL, Delegado Waldir, pediu que fossem proibidos pela Mesa os questionamentos que tratassem de temas fora dos vazamentos do The Intercept Brasil. O deputado, que já protagonizou diversos tumultos na Câmara ao desfilar armado entre seus pares, reclamou das citações à condenação de Lula. Francischini negou o pedido.
Moro foi questionado sobre uma fotografia da época em que ele era juiz na qual aparece sorrindo na companhia “de um político”. Ao responder, o ministro defendeu-se, afirmando que o deputado estava sendo investigado. Ao ser confrontado, desconversou, dizendo que não entraria em detalhes. Na foto, Moro aparece ao lado do então senador Aécio Neves (PSDB).
José Medeiros (PODE) contra-atacou: “Essa narrativa começou dizendo que o mundo ia cair, seria uma verdadeira hecatombe…, mas a montanha pariu um rato”, ironizou.
Paulo Pimenta (PT-RS) pediu que Moro apresentasse cinco advogados com quem ele tivesse mantido conversa pelo Telegram ou que apresentasse ao menos uma conversa cordial mantida com o advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins. Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, levantara uma placa na qual estava escrita a palavra “Montanha”, apelido atribuído a Pimenta na lista da Odebrecht, na qual um grupo de políticos supostamente teria recebido propina da empreiteira. Novo tumulto interrompeu o pronunciamento. Ao microfone, Pimenta provocou: “Não respondo a criminosos. Onde está o Queiroz?”.
Ao responder aos questionamentos, Moro voltou a pedir que o Intercept Brasil apresente as mensagens vazadas. “Se as minhas mensagens não foram adulteradas, não haverá nada. É um balão vazio cheio de nada”, desafiou.
Acompanhe a audiência, que se estendeu até o início da noite.