Rodrigo Maia usa crise do coronavírus para segurar pedidos de impeachment de Bolsonaro
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O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou em coletiva nesta segunda-feira, 27, que não pretende priorizar o andamento dos pedidos de impeachment protocolados por parlamentares, juristas e entidades contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Maia, que detém a prerrogativa de dar início a um processo de afastamento de Bolsonaro por crimes de responsabilidade, recomendou “paciência” e disse que o momento “não deve ser de acirramento dos conflitos”. Os pedidos de impeachment já protocolados são de autorias diversas, iniciativas de parlamentares da oposição, mas também de ex-aliados do presidente e são motivados pelas ações do presidente contra o isolamento social, a participação de Bolsonaro em manifestações antidemocráticas pelo fechamento do Congresso e do STF e por intervenção militar no país. E ainda pedem apuração da acusações feitas pelo ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, que ao pedir demissão na última quinta-feira acusou o presidente de interferência no comando da Polícia Federal. Nesta segunda-feira, até o Movimento Brasil Livre (MBL) anunciou que vai protocolar um pedido de abertura de processo de impeachment por “atitudes ilegais e imorais praticadas por Bolsonaro e reveladas pelo ex-ministro Sérgio Moro”. O pedido é assinado pelo deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) e pelo advogado Rubens Nunes, por crime de responsabilidade.
“Nosso papel é ter paciência. Claro que é legitimo discutir CPIs e outros instrumentos, mas a Câmara, sob a minha presidência, deve agir com paciência e equilíbrio para que possamos tratar do que é mais importante: a vida dos brasileiros”, disse. Diante da insistência dos repórteres para que desse uma opinião a respeito dos pedidos de impeachment, reagiu: “Quando você trata de impeachment, eu sou o juiz. Eu não posso tratar de temas cuja decisão é minha, de forma independente.”
Entre 25 e 30 pedidos de impeachment já ingressaram ou estão sendo encaminhados à Câmara. O parlamentar enumerou o aumento do número de contágios e mortes e os impactos na economia, como a redução para 10% das projeções de crescimento, queda de 5% do Produto Interno Bruto (PIB), aumento do desemprego a 16%, o que representaria 25 milhões de desempregados. E defendeu que os deputados voltem a debater de forma específica o enfrentamento a pandemia. “Não podemos tirar da pauta a relação com o Executivo e os projetos de enfrentamento da pandemia. Uma crise política nesse momento pode acelerar ainda mais as incertezas”, justificou.
Alvo de manifestações e ataques bolsonaristas e de críticas do próprio presidente que no início do mês o acusou de “enfiar a faca” e conspirar contra o governo, Maia relativizou as reações que vinha esboçando e até as críticas que chegou a fazer ao comportamento de Bolsonaro, inclusive pela demissão do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que é do seu partido, o Democratas. “Já passei por isso no governo do presidente Michel Temer (MDB) e com paciência e equilíbrio a gente superou esse período”, comparou. Na curta gestão de Temer, que virou presidente depois de um golpe parlamentar que afastou do cargo a ex-presidente Dilma Rousseff sob a falsa acusação de pedaladas fiscais, Maia, no cargo desde fevereiro de 2017, notabilizou-se por blindar o emedebista contra investigações de crimes. Agora, assume uma aparente neutralidade: “a crise é do poder Executivo e acredito que lá ela deve ficar. Aqui devemos construir soluções”, esquivou-se, referindo-se à Câmara.