POLÍTICA

Rodrigo Maia usa crise do coronavírus para segurar pedidos de impeachment de Bolsonaro

Presidente da Câmara afirmou que não deve priorizar andamento dos inúmeros pedidos de afastamento do presidente da República
Por Gilson Camargo / Publicado em 27 de abril de 2020
Maia sinaliza que vai segurar pedidos de impeachment: "a Câmara, sob a minha presidência, deve agir com paciência e equilíbrio"

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Maia sinaliza que vai segurar pedidos de impeachment: “a Câmara, sob a minha presidência, deve agir com paciência e equilíbrio”

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O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou em coletiva nesta segunda-feira, 27, que não pretende priorizar o andamento dos pedidos de impeachment protocolados por parlamentares, juristas e entidades contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Maia, que detém a prerrogativa de dar início a um processo de afastamento de Bolsonaro por crimes de responsabilidade, recomendou “paciência” e disse que o momento “não deve ser de acirramento dos conflitos”. Os pedidos de impeachment já protocolados são de autorias diversas, iniciativas de parlamentares da oposição, mas também de ex-aliados do presidente e são motivados pelas ações do presidente contra o isolamento social, a participação de Bolsonaro em manifestações antidemocráticas pelo fechamento do Congresso e do STF e por intervenção militar no país. E ainda pedem apuração da acusações feitas pelo ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, que ao pedir demissão na última quinta-feira acusou o presidente de interferência no comando da Polícia Federal. Nesta segunda-feira, até o Movimento Brasil Livre (MBL) anunciou que vai protocolar um pedido de abertura de processo de impeachment por “atitudes ilegais e imorais praticadas por Bolsonaro e reveladas pelo ex-ministro Sérgio Moro”. O pedido é assinado pelo deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) e pelo advogado Rubens Nunes, por crime de responsabilidade.

“Nosso papel é ter paciência. Claro que é legitimo discutir CPIs e outros instrumentos, mas a Câmara, sob a minha presidência, deve agir com paciência e equilíbrio para que possamos tratar do que é mais importante: a vida dos brasileiros”, disse. Diante da insistência dos repórteres para que desse uma opinião a respeito dos pedidos de impeachment, reagiu: “Quando você trata de impeachment, eu sou o juiz. Eu não posso tratar de temas cuja decisão é minha, de forma independente.”

Entre 25 e 30 pedidos de impeachment já ingressaram ou estão sendo encaminhados à Câmara. O parlamentar enumerou o aumento do número de contágios e mortes e os impactos na economia, como a redução para 10% das projeções de crescimento, queda de 5% do Produto Interno Bruto (PIB), aumento do desemprego a 16%, o que representaria 25 milhões de desempregados. E defendeu que os deputados voltem a debater de forma específica o enfrentamento a pandemia. “Não podemos tirar da pauta a relação com o Executivo e os projetos de enfrentamento da pandemia. Uma crise política nesse momento pode acelerar ainda mais as incertezas”, justificou.

Alvo de manifestações e ataques bolsonaristas e de críticas do próprio presidente que no início do mês o acusou de “enfiar a faca” e conspirar contra o governo, Maia relativizou as reações que vinha esboçando e até as críticas que chegou a fazer ao comportamento de Bolsonaro, inclusive pela demissão do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que é do seu partido, o Democratas. “Já passei por isso no governo do presidente Michel Temer (MDB) e com paciência e equilíbrio a gente superou esse período”, comparou. Na curta gestão de Temer, que virou presidente depois de um golpe parlamentar que afastou do cargo a ex-presidente Dilma Rousseff sob a falsa acusação de pedaladas fiscais, Maia, no cargo desde fevereiro de 2017, notabilizou-se por blindar o emedebista contra investigações de crimes. Agora, assume uma aparente neutralidade: “a crise é do poder Executivo e acredito que lá ela deve ficar. Aqui devemos construir soluções”, esquivou-se, referindo-se à Câmara.

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