Moro e as relações da PF com o FBI
Foto: Reprodução/Twitter
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A agência Pública (apublica.org) de jornalismo, após analisar documentos oficiais durante meses, publicou no início de maio uma reportagem que revela a ocorrência de reuniões do alto escalão do Ministério da Justiça e da Polícia Federal com o FBI (polícia federal norte-americana) em que firmaram apoio a uma unidade de vigilância na Tríplice Fronteira (Argentina, Brasil Paraguai) e o compartilhamento de dados biométricos de cidadãos dos dois países.
De acordo com a reportagem, o ex-juiz da Lava Jato, Sergio Moro, que deixou o Ministério da Justiça clamando pela “independência da Polícia Federal (PF)” nos seus 16 meses à frente do Ministério, a “independência” não foi bem assim. A análise dos documentos mostra uma inclinação bem diferente – pelo menos no que diz respeito à influência do FBI sobre a polícia brasileira.
Conforme reportagem assinada pela jornalista Natália Viana, ao assumir o Ministério da Justiça, o ex-juiz Sergio Moro e o ex-diretor da PF Maurício Valeixo assinaram acordos com o FBI, ampliando a influência americana em diferentes áreas, incluindo a presença dos agentes estrangeiros em um centro de inteligência na fronteira.
No final de 2019, o escritório do FBI no Brasil teria pedido um volume maior de recursos ao governo americano para ampliar sua equipe e atender a mais pedidos de cooperação internacional de investigações no país.
A aproximação de Moro com o FBI vai além. Quando tirou uma licença não remunerada de cinco dias em julho do ano passado, pouco depois da publicação dos documentos da Vaza Jato pelo site The Intercept, há indícios de que o ex-ministro tenha se reunido com o FBI em Washington, segundo documentos obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI). Cinco dias depois, o hacker Walter Delgatti foi preso pela PF e admitiu ter hackeado os telefones de promotores da Vaza Jato. Procurado pela repórter, o ex-ministro Sergio Moro não respondeu aos questionamentos.
É proibido ao FBI realizar investigações em territórios estrangeiros – inclusive no Brasil – porque a polícia americana não tem jurisdição no país.
A presença dos agentes do FBI no Brasil foi revelada em 2004, quando o ex-diretor do FBI no Brasil, Carlos Costa, deu uma extensa entrevista ao jornalista Bob Fernandes na revista Carta Capital. Em depoimento ao MPF na época, ele afirmou que o FBI direcionava e financiava operações da PF, o que estabelecia uma relação de “subordinação às autoridades norte-americanas”.