POLÍTICA

Robôs defendem cloroquina nas redes sociais

Bastou o presidente Bolsonaro exigir mudança dos protocolos para utilizar cloroquina para tratamento da Covid-19, que uma infinidade de perfis emitiu mensagens com padrão repetido de apoio ao medicamento
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 18 de maio de 2020

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

O presidente Jair Bolsonaro, em uma de suas falas à imprensa no Palácio da Alvorada: defesa do uso de cloroquina para o tratamento da Covid-19

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Especialistas afirmam que é um típico indicador do uso de robôs nas redes sociais. Boatos e notícias enganosas espalhadas na internet já estão em discussão na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News no Congresso Nacional, mas preocupa o fato de as mesmas atender ao seu propósito apesar de ridicularizadas pelos públicos mais atentos.

Lucio Uberdan, consultor de posicionamento político em ambiente de internet e diretor da Bateia – Mineração de Dados, acredita na eficácia da estratégia de espalhamento da mensagem, como esta “Minha filha pegou Covid no trabalho (Bancária), e meu genro pegou dela, tomaram AZT+HCQ+Zinco logo no início dos sintomas, com 4 dias estavam zerados. Não vejo motivo pra tanta polêmica, um medicamento tão antigo e que até grávida pode tomar. Simples… ñ acredita ñ toma!!!”. O especialista entende que “a mensagem é muito bem feita, pois diz o que as pessoas querem escutar de forma simples. Apresenta uma saída que todos querem”.

Segundo ele, a massificação no twitter também contribui para a mensagem chegar a formadores de opinião conservadores. Estes acabam distribuindo a mensagem em outras redes na ponta, como whatsapp. “A mensagem no ‘zap’ compartilha a autoria. Se tu manda o receptor pode achar é tua filha ou de algum amigo”.

Plantando dúvidas

Quanto a mensagem virar piada em setores mais esclarecidos por ser um texto padrão, Uberdan diz que, ao mesmo tempo que enfraquece “um pouco”, dá margem para contraponto. “Mas, contraponto viraliza menos e pouco vaza para outras redes, como whatsapp”.

O especialista chama atenção de que, no caso, o “contraponto também é uma mensagem negativa, diz que o remédio mata”. Para Uberdan, o que fica é “plantar na cabeça do cidadão uma dúvida de que, talvez, esse remédio seja bom e entregar uma esperança: uma luz no fim do túnel. Isso também já basta para o Bolsonaro, pois ele quer dominar a ideia de ser o único que, supostamente, está preocupado em achar um remédio e garantir a abertura da economia, ainda que na prática a gente saiba que é o inverso”, concluiu.

CPMI das fake news

Antes mesmo do pedido de demissão do ministro da Saúde Nelson Teich na semana passada, secretários de Comunicação dos nove estados do Nordeste anunciaram o início da produção de um dossiê sobre as mais variadas desinformações veiculadas sobre o novo coronavírus para ser entregue à CPMI das Fake News.

No escopo de trabalho da CPMI está sendo analisado a utilização de robôs para a propagação de notícias falsas. O mecanismo tem sido utilizado pelo chamado “gabinete do ódio” que é formado por assessores ligados à família Bolsonaro no Palácio do Planalto, segundo denúncias de ex-aliados do governo federal.

Apesar de em abril passado o filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, ter tentado evitar a continuidade dos trabalhos da comissão, ela teve seus trabalhos prorrogados por tempo indeterminado.

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